Exclusivo: Binswanger avalia leilão de CEPACs na Faria Lima

HIS no Complexo Paraisópolis, nova oferta de alto padrão e incentivo a escritórios em Pinheiros estão entre os destaques

23 de julho de 2025Mercado Imobiliário
Por Henrique Cisman

Previsto para acontecer em agosto, o leilão dos Certificados de Potencial Adicional Construtivo (CEPACs) da Operação Urbana Consorciada Faria Lima (OUCFL) deve movimentar o mercado imobiliário paulistano, destravando investimentos em novos prédios de escritórios e empreendimentos residenciais, tanto para o segmento econômico - no âmbito da Habitação de Interesse Social (HIS) - quanto unidades de alto padrão, segundo avalia Simone Santos, sócia-diretora da Binswanger Brazil.

Por ser talvez o último, este deve ser um dos leilões mais disputados da história da Operação Urbana Faria Lima. Confira a seguir a entrevista exclusiva.

GRI Institute: A Lei 18.175 de 2024 trouxe ajustes significativos e expandiu o perímetro da OUCFL, incluindo comunidades como Paraisópolis. Qual o impacto dessas mudanças no perfil dos projetos imobiliários na região e na destinação dos recursos arrecadados?

Simone: Este perímetro expandido é destinado exclusivamente a investimentos para provisão habitacional, não sendo permitida a utilização de CEPACs adquiridos. Para o Complexo Paraisópolis (favelas do Real Parque, Jardim Panorama, Paraisópolis e Jardim Colombo), essa inclusão é extremamente benéfica tanto para a habitação como também para melhoria de estruturas viárias, reurbanização e acesso.
  
A obrigatoriedade de direcionamento de recursos é uma política pública, podendo envolver o mercado privado somente por meio de consórcios com a Companhia de Habitação de São Paulo (Cohab-SP) para desenvolvimento dos empreendimentos HIS previstos. 

Para as incorporadoras, a atuação se dá somente no perímetro original da Operação Urbana Faria Lima por meio da compra dos CEPACs próprios para o uso residencial, com parâmetros construtivos pautados pela lei vigente do zoneamento e alguns benefícios para o desenvolvimento de unidades HIS e empreendimentos de uso misto.

O documento destaca que a equivalência de um CEPAC em área adicional construída varia por subsetor e uso, com maior valor para uso residencial em Hélio Pelegrino e Olimpíadas, e para uso não residencial em Pinheiros. Quais os efeitos esperados?

A viabilidade de novos empreendimentos corporativos em Pinheiros. Ao analisar toda a avenida, observa-se que o trecho entre a Rebouças e o Largo da Batata continua sendo o menos valorizado em escritórios.
 
Os maiores valores de locação concentram-se no entorno do Shopping Iguatemi, em edifícios já tradicionais, e nas proximidades da Avenida Juscelino Kubitschek, em empreendimentos mais recentes. Nesse cenário, há o risco de que os preços mínimos estipulados para os próximos leilões de CEPACs não se sustentem frente aos valores de comercialização praticados atualmente nesse trecho de Pinheiros, comprometendo a viabilidade financeira de novos projetos corporativos.

A inclusão de novos trechos da Avenida Faria Lima no setor Olimpíadas, antes excluídos, altera a dinâmica de valorização e o potencial construtivo nessa área específica?

Essa inclusão reforça a valorização de uma área da Faria Lima que já consegue alcançar elevados preços pedidos. Empreendimentos na região - como o Vera Cruz e o Praça Faria Lima - são locados a valores próximos de R$300,00/m², estando entre os mais caros da região. Com um preço alcançado mais alto em uma região valorizada, a viabilidade de novos empreendimentos pode ser favorecida.

Dentre os desafios, primeiramente a oferta de terrenos, pois o trecho incluído é pequeno e já possui projetos concluídos. Há também a concorrência entre residencial e corporativo, pois é uma área valorizada para os dois usos.

Qual a expectativa para o leilão? Disputa acirrada e todos os títulos vendidos ou o contexto econômico desafiador deve falar mais alto?

O ponto principal é entender qual será a quantidade de CEPACs ofertada no primeiro leilão. Ainda não temos esse número. Existe uma demanda alta para a compra desses CEPACs, principalmente porque o mercado vê como a última chance de se construir a 4 vezes [o potencial construtivo original] na região e, além disso, pela baixa oferta de terrenos, que será ainda mais escassa com os novos empreendimentos.
 
Ainda, a reformulação da lei inclui um dispositivo que permite, através da compra de CEPACs, a regularização de edificações existentes dentro do perímetro que estejam em desacordo com os parâmetros construtivos da legislação vigente. Este instrumento cria uma demanda para o leilão vinda de proprietários com obras embargadas ou empreendimentos irregulares.

A Operação Faria Lima completa 30 anos em 2025. Quais foram os maiores legados e aprendizados ao longo dessas três décadas?

A Operação Urbana da Faria Lima foi a principal na cidade de São Paulo e é tida como exemplo para a política urbana do país como um todo. Trouxe um legado de valorização da região, que se consolidou como o principal polo econômico e financeiro da cidade e do país.
 
Foi responsável pela geração de empregos diretos no setor da construção e serviços, bem como pela expansão do número de empresas e valorização imobiliária na região de Pinheiros, do Itaim e da Vila Olímpia. Entretanto, essa valorização não foi acompanhada pela entrega de unidades HIS, que ficou aquém do previsto, necessitando de novas regras ao longo do período da Operação Faria Lima. 

Entre os principais legados, está também a consolidação dos CEPACs como instrumento de captura de recursos, bem como a correção dos valores de CEPACs ao longo dos leilões, acompanhando o mercado e a demanda. O impacto material na cidade se observa principalmente nas intervenções públicas fomentadas pelos recursos arrecadados com o histórico de leilões.
 
Entre as já concluídas, destacam-se os projetos de infraestrutura referentes aos túneis Max Feffer e Fernando Vieira de Melo, os investimentos na Linha Amarela do Metrô, o Terminal Pinheiros, a requalificação do Largo da Batata, a ciclovia da Faria Lima e o conjunto habitacional Coliseu, recentemente concluído.
 
Entre as intervenções ainda previstas, destaca-se o conjunto habitacional do Jardim Panorama e melhorias urbanas no Complexo Paraisópolis, agora com destinação pré-definida e obrigatória de recursos. No perímetro original, destacam-se os projetos de melhoria das avenidas Santo Amaro e Juscelino Kubitscheck, com mais arborização, ciclovias bidirecionais e espaço para pedestres, e os projetos para ciclopassarelas nas pontes de conexão da região.

Quais são as perspectivas da Binswanger para o mercado imobiliário na região da Operação Urbana Faria Lima nos próximos 5 a 10 anos, considerando as recentes mudanças e o próximo leilão de CEPACs?

Para o mercado corporativo, a inclusão de novos empreendimentos na região acontece em um momento em que a vacância da Faria Lima oscila próxima dos 8%, patamar baixo para o mercado. Essa entrada de novos empreendimentos pode atender uma demanda no local e uma expansão de empresas na própria região, com uma valorização possivelmente ainda maior - os preços médios na região já se encontram próximos de R$250,00/m².
 
Para o setor residencial, o valor elevado de CEPACs e o atual momento econômico podem estimular um aumento dos empreendimentos de alto padrão. É um possível novo ciclo de valorização. Vale ressaltar que, em um prazo mais longo, a chegada da Linha Rosa do metrô e a instalação das novas infraestruturas de conexão vão tornar cada CEPAC remanescente ainda mais estratégico para novos investimentos.