chormail / Envato Moody's: o panorama da infraestrutura e da energia no Brasil
Bruno Britto, Vincent Detilleux e Cristiane Spercel, da Moody's Ratings, analisam o que esperar desses setores em 2026
14 de novembro de 2025Infraestrutura
Escrito por:Belén Palkovsky
O Brasil vive um cenário macroeconômico que, ao mesmo tempo em que apresenta desafios, também é promissor para os setores de infraestrutura e energia. Com projeções de crescimento do PIB em torno de 2% para 2025 e inflação controlada entre 4,8% e 5%, mas uma taxa Selic mantida em 15% ao ano, o panorama se configura como um misto de oportunidades e desafios. Ao mesmo tempo, a implementação gradual da reforma tributária, prevista para começar em 2026, promete ser um divisor de águas, alterando não apenas o perfil da carga tributária, mas também a atratividade dos investimentos em projetos de longo prazo.
Nesse contexto, buscando entender a fundo como esses indicadores econômicos impactam a dinâmica de financiamento e o apetite por risco nos projetos estruturantes para o país, GRI Institute conversou com Bruno Britto (Analista, Finanças de Projetos e Infraestrutura), Vincent Detilleux (Vice-Presidente Associado – Analista, Finanças de Projetos e Infraestrutura) e Cristiane Spercel (Diretora-Geral Associada, Finanças de Projetos e Infraestrutura), especialistas da Moody's Ratings Brasil.
A seguir, os representantes da agência traçam uma radiografia da capacidade de financiamento e os cenários de crédito no Brasil, e como esses fatores configuram a atratividade do setor de infraestrutura.
GRI Hub: Como o cenário econômico atual do Brasil impacta a estruturação e implementação de novos projetos de infraestrutura e a avaliação de risco desses ativos sob a ótica da classificação de crédito?
Moody´s: O setor de infraestrutura no Brasil, por sua natureza estável e de longo prazo, tende a manter sua atratividade mesmo em cenários macroeconômicos desafiadores. Os projetos de infraestrutura continuam a oferecer fluxos de caixa previsíveis, amparados por contratos de longo prazo indexados à inflação. Essa característica, aliada à demanda inelástica por serviços essenciais como energia, saneamento e mobilidade, reforça a resiliência do setor e sua capacidade de atravessar ciclos econômicos com menor volatilidade.
A manutenção da taxa Selic em patamar elevado impõe desafios adicionais à estruturação financeira dos projetos, elevando o custo de capital e exigindo maior disciplina na modelagem econômico-financeira. No entanto, os editais de concessão têm incorporado ajustes relevantes para a flexibilização das taxas internas de retorno, como a atualização das premissas de WACC (custo médio ponderado de capital), e transparência na alocação de riscos permitindo que os projetos permaneçam atrativos mesmo em um ambiente de juros altos.
Sob a ótica da classificação de crédito, esses fatores influenciam diretamente a avaliação de risco dos ativos. Em um ambiente de juros elevados, há maior pressão sobre indicadores como cobertura de juros [capacidade de uma empresa de pagar os juros de suas dívidas] e índice de cobertura do serviço da dívida [capacidade de a empresa pagar tanto os juros quanto o principal da dívida], o que pode limitar os ratings dos projetos. No entanto, um eventual ciclo de redução de juros, por sua vez, aliviaria as métricas financeiras e poderia melhorar os ratings de crédito, especialmente em projetos com alavancagem mais elevada.
O setor de infraestrutura segue atrativo, mas exige maior rigor na estruturação dos projetos e na análise de risco. A combinação de estabilidade regulatória e evolução gradual do ambiente macroeconômico podem sustentar o interesse dos investidores, desde que os projetos sejam desenhados com margens adequadas e mecanismos de mitigação de risco bem definidos.
GRI Hub: Em quais segmentos de infraestrutura o Brasil apresenta hoje melhor balanço de risco-retorno e que dores que a Moody 's observa na estruturação dos novos leilões do Governo Federal e de Estados?
Moody´s: Na ótica da agência, o setor de transmissão de energia elétrica se destaca como o de menor risco de crédito, principalmente por sua estrutura de receita baseada na disponibilidade, o que garante maior previsibilidade dos fluxos de caixa. Esse perfil de receitas reduz a exposição a riscos operacionais e de demanda, tornando o setor atrativo mesmo diante de riscos relativamente maiores durante a fase de construção, conforme evidenciado pela crescente competição nos leilões.
A maior competição nos leilões também reforça a importância de uma análise prévia robusta para evitar repactuações de contratos, que têm sido recorrentes em setores com maior complexidade de execução, como rodovias.
Nos novos leilões estruturados pelo Governo Federal e por estados, a Moody’s observa avanços importantes na tentativa de mitigar esses riscos, especialmente em concessões com demanda mais incerta ou desafios operacionais elevados. A incorporação de mecanismos de compartilhamento de riscos (risk sharing) tem sido uma resposta relevante, permitindo maior equilíbrio econômico-financeiro dos contratos.
A inclusão de cláusulas que tratam de riscos climáticos e a possibilidade de rápida compensação para reequilíbrio econômico após eventos extremos de força maior seria um avanço para atender às necessidades dos investidores e garantir maior sustentabilidade dos contratos no longo prazo.
GRI Hub: Qual o impacto da transição energética no mercado de infraestrutura? Em que medida pode afetar a competitividade e as condições financeiras dos projetos de infraestrutura, principalmente aqueles que dependem de energia?
Moody´s: A modernização do setor elétrico brasileiro, que caminha com a transição para fontes de energia cada vez mais limpas e eficientes, tem gerado impactos relevantes no mercado de infraestrutura. Com cerca de 90% da matriz elétrica já compostos por fontes renováveis, o país se posiciona de forma estratégica para liderar investimentos em infraestrutura verde.
A descentralização da rede e o crescimento da geração distribuída, especialmente solar, abrem oportunidades, mas também trazem desafios, como os do campo regulatório, gargalos na transmissão e limitações logísticas que afetam a viabilidade e a competitividade de projetos dependentes de energia. Esses obstáculos são particularmente críticos em regiões com infraestrutura deficiente, onde os custos operacionais e os riscos de atraso são mais elevados.
Além disso, o alto custo de capital, a volatilidade cambial e prêmios de risco político dificultam o acesso ao financiamento para tecnologias emergentes como o hidrogênio verde. A ausência de contratos de longo prazo e instrumentos financeiros adequados compromete a previsibilidade dos fluxos de caixa, elemento essencial para a avaliação de crédito desses ativos.
Por outro lado, a expansão de mecanismos de financiamento sustentável, como os green bonds e os programas de bancos de desenvolvimento, tem ganhado relevância como forma de mitigar riscos e ampliar o acesso a capital.
Essas alternativas contribuem para melhorar as condições financeiras dos projetos e viabilizar investimentos em infraestrutura energética de baixo carbono. A integração entre políticas públicas, incentivos fiscais e planejamento estratégico será fundamental para garantir que a reconfiguração do setor elétrico se traduza em ganhos reais de competitividade.
A transição energética pode fortalecer a atratividade de projetos que se alinham às novas exigências regulatórias e tecnológicas, mas também exige maior rigor na estruturação financeira e na gestão de riscos. Para que esses ativos mantenham qualidade de crédito elevada, será necessário combinar inovação com estabilidade institucional e eficiência regulatória, criando um ambiente propício ao desenvolvimento sustentável da infraestrutura brasileira.
GRI Hub: O Brasil tem buscado se posicionar como um hub estratégico para data centers. Quais são os principais desafios relacionados à infraestrutura energética que precisam ser superados para atender a esse segmento?
Moody´s: A expansão do mercado de data centers e de outros grandes consumidores de eletricidade no Brasil exige uma infraestrutura energética robusta e confiável, já que essas operações dependem de um suprimento elevado e constante.
Graças à sua geografia e a condições climáticas favoráveis, o Brasil tem atraído investimentos em geração renovável. No Nordeste, esse movimento trouxe novos desafios, como o aumento do curtailment. A ampliação e modernização das linhas de transmissão são medidas urgentes para mitigar esse problema.
Outro ponto crítico é o fortalecimento dos sistemas de armazenamento de energia, essencial para lidar com a volatilidade da geração intradiária e o risco hídrico. A implantação de sistemas de armazenamento com baterias (BESS) pode contribuir para o equilíbrio da rede em curtos períodos, garantindo estabilidade e suprimento contínuo nos horários de pico. Já as hidrelétricas reversíveis (PHS) oferecem capacidade de armazenamento em larga escala e longa duração.
Além dos desafios técnicos, existem entraves regulatórios e ambientais. Processos de licenciamento demorados, dificuldades para obter conexão à rede, disputas fundiárias e falta de coordenação de órgãos públicos atrasam a execução de grandes projetos.
Para viabilizar a expansão dos data centers, será necessário simplificar os trâmites regulatórios, aumentar a previsibilidade jurídica e promover diálogo com comunidades locais e demais stakeholders. A criação de um ambiente institucional mais eficiente e transparente será determinante para atrair investimentos e acelerar a implementação de soluções energéticas.
GRI Hub: Sobre o PL do Novo Marco Legal de Concessões e PPPs, atualmente aguardando tramitação no Senado, qual o seu impacto para a segurança jurídica e a atração de novos investimentos para a infraestrutura no país?
Moody´s: O Projeto de Lei do Novo Marco Legal de Concessões e PPPs representa um avanço relevante para a segurança jurídica dos contratos público-privados no Brasil, especialmente em um contexto de crescimento moderado e restrições fiscais.
Ao estabelecer regras mais claras sobre repartição de riscos, suspensão de obrigações em caso de inadimplência governamental e mecanismos alternativos de resolução de disputas, o PL busca reduzir incertezas que historicamente afastaram investidores. Essa maior previsibilidade é particularmente importante para subsetores emergentes como data centers, que demandam investimentos intensivos em infraestrutura digital e exigem estabilidade regulatória de longo prazo.
Ainda que a segurança jurídica seja um dos pilares para atrair capital privado, não é suficiente por si só. Para aumentar sua competitividade, o Brasil precisa enfrentar desafios estruturais como o fortalecimento institucional, a melhoria do planejamento de projetos e a garantia de estabilidade macroeconômica.
A experiência positiva do setor de saneamento após a aprovação de seu marco legal reforça a importância de um ambiente regulatório claro e estável para destravar investimentos. Outro case é a recente Medida Provisória que institui o regime especial de tributação para data centers (Redata), um exemplo concreto de como o Brasil pode alinhar sua infraestrutura às demandas da economia digital. Com incentivos fiscais e exigências de sustentabilidade, o programa tem objetivo de atrair até R$ 2 trilhões em investimentos na próxima década.
Integrar esse tipo de iniciativa à estratégia nacional de concessões e PPPs pode posicionar o país como um hub regional de tecnologia e inovação, ampliando a diversificação dos ativos de infraestrutura e fortalecendo a base econômica.
Além disso, muitos países passaram por processos semelhantes de reforma de marcos de PPP e concessões, e seria útil aprender com suas experiências. O Chile, pode ser visto como um caso de sucesso: ao longo de 30 anos, o país construiu um sistema de concessões robusto (rodovias, aeroportos, hospitais), com forte respeito a contratos, mecanismos transparentes de licitação e participação ativa de investidores privados globais.
A aprovação do PL, por si só, não garante os resultados esperados. É a aplicação prática das novas regras, aliada a uma visão estratégica de longo prazo, que poderá transformar a infraestrutura brasileira e impulsionar o desenvolvimento sustentável.
Nesse contexto, buscando entender a fundo como esses indicadores econômicos impactam a dinâmica de financiamento e o apetite por risco nos projetos estruturantes para o país, GRI Institute conversou com Bruno Britto (Analista, Finanças de Projetos e Infraestrutura), Vincent Detilleux (Vice-Presidente Associado – Analista, Finanças de Projetos e Infraestrutura) e Cristiane Spercel (Diretora-Geral Associada, Finanças de Projetos e Infraestrutura), especialistas da Moody's Ratings Brasil.
A seguir, os representantes da agência traçam uma radiografia da capacidade de financiamento e os cenários de crédito no Brasil, e como esses fatores configuram a atratividade do setor de infraestrutura.
GRI Hub: Como o cenário econômico atual do Brasil impacta a estruturação e implementação de novos projetos de infraestrutura e a avaliação de risco desses ativos sob a ótica da classificação de crédito?
Moody´s: O setor de infraestrutura no Brasil, por sua natureza estável e de longo prazo, tende a manter sua atratividade mesmo em cenários macroeconômicos desafiadores. Os projetos de infraestrutura continuam a oferecer fluxos de caixa previsíveis, amparados por contratos de longo prazo indexados à inflação. Essa característica, aliada à demanda inelástica por serviços essenciais como energia, saneamento e mobilidade, reforça a resiliência do setor e sua capacidade de atravessar ciclos econômicos com menor volatilidade.
A manutenção da taxa Selic em patamar elevado impõe desafios adicionais à estruturação financeira dos projetos, elevando o custo de capital e exigindo maior disciplina na modelagem econômico-financeira. No entanto, os editais de concessão têm incorporado ajustes relevantes para a flexibilização das taxas internas de retorno, como a atualização das premissas de WACC (custo médio ponderado de capital), e transparência na alocação de riscos permitindo que os projetos permaneçam atrativos mesmo em um ambiente de juros altos.
Sob a ótica da classificação de crédito, esses fatores influenciam diretamente a avaliação de risco dos ativos. Em um ambiente de juros elevados, há maior pressão sobre indicadores como cobertura de juros [capacidade de uma empresa de pagar os juros de suas dívidas] e índice de cobertura do serviço da dívida [capacidade de a empresa pagar tanto os juros quanto o principal da dívida], o que pode limitar os ratings dos projetos. No entanto, um eventual ciclo de redução de juros, por sua vez, aliviaria as métricas financeiras e poderia melhorar os ratings de crédito, especialmente em projetos com alavancagem mais elevada.
O setor de infraestrutura segue atrativo, mas exige maior rigor na estruturação dos projetos e na análise de risco. A combinação de estabilidade regulatória e evolução gradual do ambiente macroeconômico podem sustentar o interesse dos investidores, desde que os projetos sejam desenhados com margens adequadas e mecanismos de mitigação de risco bem definidos.
GRI Hub: Em quais segmentos de infraestrutura o Brasil apresenta hoje melhor balanço de risco-retorno e que dores que a Moody 's observa na estruturação dos novos leilões do Governo Federal e de Estados?
Moody´s: Na ótica da agência, o setor de transmissão de energia elétrica se destaca como o de menor risco de crédito, principalmente por sua estrutura de receita baseada na disponibilidade, o que garante maior previsibilidade dos fluxos de caixa. Esse perfil de receitas reduz a exposição a riscos operacionais e de demanda, tornando o setor atrativo mesmo diante de riscos relativamente maiores durante a fase de construção, conforme evidenciado pela crescente competição nos leilões.
A maior competição nos leilões também reforça a importância de uma análise prévia robusta para evitar repactuações de contratos, que têm sido recorrentes em setores com maior complexidade de execução, como rodovias.
Nos novos leilões estruturados pelo Governo Federal e por estados, a Moody’s observa avanços importantes na tentativa de mitigar esses riscos, especialmente em concessões com demanda mais incerta ou desafios operacionais elevados. A incorporação de mecanismos de compartilhamento de riscos (risk sharing) tem sido uma resposta relevante, permitindo maior equilíbrio econômico-financeiro dos contratos.
A inclusão de cláusulas que tratam de riscos climáticos e a possibilidade de rápida compensação para reequilíbrio econômico após eventos extremos de força maior seria um avanço para atender às necessidades dos investidores e garantir maior sustentabilidade dos contratos no longo prazo.
GRI Hub: Qual o impacto da transição energética no mercado de infraestrutura? Em que medida pode afetar a competitividade e as condições financeiras dos projetos de infraestrutura, principalmente aqueles que dependem de energia?
Moody´s: A modernização do setor elétrico brasileiro, que caminha com a transição para fontes de energia cada vez mais limpas e eficientes, tem gerado impactos relevantes no mercado de infraestrutura. Com cerca de 90% da matriz elétrica já compostos por fontes renováveis, o país se posiciona de forma estratégica para liderar investimentos em infraestrutura verde.
A descentralização da rede e o crescimento da geração distribuída, especialmente solar, abrem oportunidades, mas também trazem desafios, como os do campo regulatório, gargalos na transmissão e limitações logísticas que afetam a viabilidade e a competitividade de projetos dependentes de energia. Esses obstáculos são particularmente críticos em regiões com infraestrutura deficiente, onde os custos operacionais e os riscos de atraso são mais elevados.
Além disso, o alto custo de capital, a volatilidade cambial e prêmios de risco político dificultam o acesso ao financiamento para tecnologias emergentes como o hidrogênio verde. A ausência de contratos de longo prazo e instrumentos financeiros adequados compromete a previsibilidade dos fluxos de caixa, elemento essencial para a avaliação de crédito desses ativos.
Por outro lado, a expansão de mecanismos de financiamento sustentável, como os green bonds e os programas de bancos de desenvolvimento, tem ganhado relevância como forma de mitigar riscos e ampliar o acesso a capital.
Essas alternativas contribuem para melhorar as condições financeiras dos projetos e viabilizar investimentos em infraestrutura energética de baixo carbono. A integração entre políticas públicas, incentivos fiscais e planejamento estratégico será fundamental para garantir que a reconfiguração do setor elétrico se traduza em ganhos reais de competitividade.
A transição energética pode fortalecer a atratividade de projetos que se alinham às novas exigências regulatórias e tecnológicas, mas também exige maior rigor na estruturação financeira e na gestão de riscos. Para que esses ativos mantenham qualidade de crédito elevada, será necessário combinar inovação com estabilidade institucional e eficiência regulatória, criando um ambiente propício ao desenvolvimento sustentável da infraestrutura brasileira.
GRI Hub: O Brasil tem buscado se posicionar como um hub estratégico para data centers. Quais são os principais desafios relacionados à infraestrutura energética que precisam ser superados para atender a esse segmento?
Moody´s: A expansão do mercado de data centers e de outros grandes consumidores de eletricidade no Brasil exige uma infraestrutura energética robusta e confiável, já que essas operações dependem de um suprimento elevado e constante.
Graças à sua geografia e a condições climáticas favoráveis, o Brasil tem atraído investimentos em geração renovável. No Nordeste, esse movimento trouxe novos desafios, como o aumento do curtailment. A ampliação e modernização das linhas de transmissão são medidas urgentes para mitigar esse problema.
Outro ponto crítico é o fortalecimento dos sistemas de armazenamento de energia, essencial para lidar com a volatilidade da geração intradiária e o risco hídrico. A implantação de sistemas de armazenamento com baterias (BESS) pode contribuir para o equilíbrio da rede em curtos períodos, garantindo estabilidade e suprimento contínuo nos horários de pico. Já as hidrelétricas reversíveis (PHS) oferecem capacidade de armazenamento em larga escala e longa duração.
Além dos desafios técnicos, existem entraves regulatórios e ambientais. Processos de licenciamento demorados, dificuldades para obter conexão à rede, disputas fundiárias e falta de coordenação de órgãos públicos atrasam a execução de grandes projetos.
Para viabilizar a expansão dos data centers, será necessário simplificar os trâmites regulatórios, aumentar a previsibilidade jurídica e promover diálogo com comunidades locais e demais stakeholders. A criação de um ambiente institucional mais eficiente e transparente será determinante para atrair investimentos e acelerar a implementação de soluções energéticas.
GRI Hub: Sobre o PL do Novo Marco Legal de Concessões e PPPs, atualmente aguardando tramitação no Senado, qual o seu impacto para a segurança jurídica e a atração de novos investimentos para a infraestrutura no país?
Moody´s: O Projeto de Lei do Novo Marco Legal de Concessões e PPPs representa um avanço relevante para a segurança jurídica dos contratos público-privados no Brasil, especialmente em um contexto de crescimento moderado e restrições fiscais.
Ao estabelecer regras mais claras sobre repartição de riscos, suspensão de obrigações em caso de inadimplência governamental e mecanismos alternativos de resolução de disputas, o PL busca reduzir incertezas que historicamente afastaram investidores. Essa maior previsibilidade é particularmente importante para subsetores emergentes como data centers, que demandam investimentos intensivos em infraestrutura digital e exigem estabilidade regulatória de longo prazo.
Ainda que a segurança jurídica seja um dos pilares para atrair capital privado, não é suficiente por si só. Para aumentar sua competitividade, o Brasil precisa enfrentar desafios estruturais como o fortalecimento institucional, a melhoria do planejamento de projetos e a garantia de estabilidade macroeconômica.
A experiência positiva do setor de saneamento após a aprovação de seu marco legal reforça a importância de um ambiente regulatório claro e estável para destravar investimentos. Outro case é a recente Medida Provisória que institui o regime especial de tributação para data centers (Redata), um exemplo concreto de como o Brasil pode alinhar sua infraestrutura às demandas da economia digital. Com incentivos fiscais e exigências de sustentabilidade, o programa tem objetivo de atrair até R$ 2 trilhões em investimentos na próxima década.
Integrar esse tipo de iniciativa à estratégia nacional de concessões e PPPs pode posicionar o país como um hub regional de tecnologia e inovação, ampliando a diversificação dos ativos de infraestrutura e fortalecendo a base econômica.
Além disso, muitos países passaram por processos semelhantes de reforma de marcos de PPP e concessões, e seria útil aprender com suas experiências. O Chile, pode ser visto como um caso de sucesso: ao longo de 30 anos, o país construiu um sistema de concessões robusto (rodovias, aeroportos, hospitais), com forte respeito a contratos, mecanismos transparentes de licitação e participação ativa de investidores privados globais.
A aprovação do PL, por si só, não garante os resultados esperados. É a aplicação prática das novas regras, aliada a uma visão estratégica de longo prazo, que poderá transformar a infraestrutura brasileira e impulsionar o desenvolvimento sustentável.