Gemini AIRadar de Mercado: BC e Caixa comentam reestruturação do crédito e expectativa de queda de juros
Em paralelo, custos de construção se estabilizam em meio a escassez de mão de obra e regulamentações municipais ameaçam o mercado de short stay
14 de novembro de 2025Mercado Imobiliário
Escrito por:Isabella Toledo
Poupança é “Robin Hood às avessas”, diz presidente do BC
Em meio ao movimento de reconfiguração do crédito imobiliário no Brasil, o presidente do Banco Central classificou a poupança como um “Robin Hood às avessas”, explicando que a baixa rentabilidade para os poupadores de menor acesso à informação acaba direcionando recursos para financiar crédito mais barato a outros segmentos.Gabriel Galípolo destacou que a queda nas aplicações é uma mudança estrutural, não apenas conjuntural, impulsionada pela maior educação financeira e pelo acesso a investimentos mais vantajosos.
Diante disso, o Banco Central tem promovido um modelo mais alinhado ao mercado, com uma nova linha de crédito voltada à classe média, visando garantir que o prazo dos recursos captados pelos bancos se alinhe ao dos empréstimos concedidos, promovendo maior equilíbrio financeiro e evitando a necessidade de manter fundos como depósitos compulsórios.
Além disso, a redução da Selic no médio prazo pode potencializar o crescimento do crédito imobiliário, com a expectativa de adicionar mais de 80 mil famílias ao mercado, segundo Carlos Antônio Vieira.
O presidente da Caixa Econômica Federal - que projeta liberar mais de R$1 trilhão em crédito imobiliário nos próximos dez anos - explicou que a queda dos juros contribuirá para a criação de um mercado secundário de crédito imobiliário efetivo, uma medida fundamental para aumentar a inclusão no financiamento habitacional.
Para as camadas de renda mais baixa, o Congresso também avança com a aprovação de um projeto de lei que adiciona novas modalidades ao Programa Minha Casa, Minha Vida, oferecendo alternativas de locação e arrendamento social para famílias com renda de até três salários mínimos.
Esse conjunto de mudanças, tanto no modelo de captação quanto nas políticas públicas, aponta para um futuro mais sustentável para o crédito imobiliário no país, alinhando as necessidades do mercado com as novas dinâmicas econômicas e sociais.
Custos de construção estabilizam, mas falta de profissionais impacta o setor
O Índice Nacional da Construção Civil registrou alta de 0,27% em outubro de 2025, sinalizando um ritmo mais moderado de avanço nos custos em comparação aos meses anteriores.Na comparação anual, a variação foi de 0,53%, enquanto o acumulado em 12 meses atingiu 5,30%, ligeiramente abaixo do registrado até setembro. Esse movimento indica uma tendência de estabilização, refletida também nas variações de materiais (0,31%) e mão de obra (0,22%), que passaram a crescer de forma mais contida.
A desaceleração oferece certo alívio para incorporadoras e construtoras, que encontram um ambiente um pouco mais previsível para o planejamento de novos projetos. Ainda assim, a alta anual de 5,30% nos custos continua pressionando especialmente os empreendimentos voltados às faixas de renda média e baixa, onde as margens já são mais estreitas e sensíveis ao aumento dos preços de terrenos, materiais e serviços.
Somado a isso, o setor enfrenta um desafio que permanece crítico: a escassez de mão de obra qualificada. No primeiro trimestre de 2025, 82% das empresas relataram dificuldade para contratar, um fator que compromete a produtividade, afeta cronogramas e pode impactar a qualidade final das obras.
O cenário, portanto, combina custos mais estáveis, mas ainda elevados, com um gargalo estrutural de qualificação profissional que ameaça a capacidade de expansão sustentável da construção civil nos próximos anos.
Regulamentações municipais ameaçam short stay
As prefeituras brasileiras têm intensificado o foco em aluguéis por temporada intermediados por plataformas como o Airbnb, com o objetivo de enquadrar essa atividade na cobrança do ISS (Imposto Sobre Serviços), e não apenas no Imposto de Renda da pessoa física.Cidades como Salvador, Petrópolis, Olímpia e Ponta Grossa já aprovaram legislações específicas, enquanto outras - incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis - analisam projetos semelhantes em suas câmaras municipais.
A disputa já chegou ao Judiciário. Em Petrópolis, por exemplo, a Justiça determinou que a plataforma retenha e repasse o ISS, embora a decisão ainda esteja em fase de recurso.
Paralelamente, diversos municípios continuam avançando em regulamentações próprias, o que exige atenção redobrada de anfitriões, administradoras imobiliárias, incorporadoras e empresas de tecnologia que atuam no segmento.
Os municípios defendem que a medida corrige uma “distorção concorrencial”, uma vez que hotéis e meios de hospedagem tradicionais já recolhem o ISS. Além disso, a iniciativa ampliaria a arrecadação local ao incorporar parte relevante da economia digital.
Por outro lado, plataformas e proprietários argumentam que o aluguel por temporada é regido pelo Código Civil como contrato de locação, e não como prestação de serviços - posição respaldada por interpretações anteriores do Supremo Tribunal Federal e pela legislação vigente.