Radar de Mercado: BC mantém Selic em 15%, enquanto Caixa revê fontes de funding

A manutenção da taxa traz impactos diretos ao setor imobiliário, que busca alternativas de crédito no mercado de capitais

19 de setembro de 2025Mercado Imobiliário
Por Isabella Toledo

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, na quarta-feira (17), manter a taxa Selic estável em 15% ao ano, em decisão unânime. O comitê justificou a medida citando a inflação ainda acima da meta e instabilidades no cenário externo, apesar da perda de fôlego da atividade econômica. 

A manutenção da Selic traz impactos diretos ao mercado imobiliário e aos investimentos ligados ao setor. Para quem busca financiamento, o crédito fica mais caro: bancos exigem entradas maiores e comprovação de renda mais rigorosa, o que desestimula famílias de classe média e reduz o ritmo das vendas. 

No campo dos investimentos, o cenário é ambíguo. Os fundos imobiliários (FIIs) sofrem pressão no curto prazo, já que a renda fixa mais atrativa leva investidores a comparar dividendos com o CDI, tornando os retornos menos competitivos.

Por outro lado, há fatores que podem reverter essa percepção: a expectativa de cortes futuros de juros, combinada à tramitação da MP que propõe tributar dividendos dos FIIs em 5% e revisar as alíquotas de ganho de capital, pode redesenhar a atratividade desses fundos. 

Caixa revê fontes de financiamento, enquanto mercado de capitais ganha espaço no crédito imobiliário

O crédito imobiliário brasileiro passa por uma mudança estrutural em suas fontes de funding. A poupança, que historicamente sustentou o setor, cresce pouco - apenas 4,2% em um ano - e já não acompanha a expansão da carteira habitacional

A Caixa, maior financiadora do segmento, busca alternativas: a captação via LCI (Letras de Crédito Imobiliário) disparou 37% no período, alcançando R$ 222,7 bilhões, enquanto também avança em emissões de letras financeiras e em operações no exterior.

Com o crédito bancário mais caro e restrito, o mercado de capitais ganhou protagonismo. Hoje, instrumentos como CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários), FII (Fundos de Investimento Imobiliário) e LIG (Letras Imobiliárias Garantidas) já respondem por 38% do funding, superando pela primeira vez a poupança.

Analistas apontam fatores estruturais para essa virada: os juros elevados aumentaram a atratividade de títulos privados de crédito, muitas vezes isentos de impostos, enquanto a desintermediação bancária e os avanços tecnológicos facilitaram a emissão em massa de CRIs, CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) e debêntures.

O resultado é um mercado de crédito privado em rápida expansão, que quintuplicou em quatro anos, saltando de R$ 1 trilhão para R$ 5 trilhões. Nesse cenário, o modelo de financiamento imobiliário torna-se mais diversificado, reduz a dependência da poupança e ganha fôlego para sustentar o crédito habitacional.

Novo Código Civil propõe restrições a aluguéis de curta duração em condomínios

Projeto de lei em tramitação no Senado propõe alterar o Código Civil para proibir, como regra geral, a “hospedagem atípica” em condomínios residenciais, salvo quando autorizada expressamente em convenção ou assembleia. 

A proposta se alinha a debates já existentes no Brasil e no exterior, onde cidades como Barcelona, Nova York e Paris restringem locações de curta duração. Em São Paulo, por exemplo, um decreto recente proibiu a prática em empreendimentos de Habitação de Interesse Social (HIS) e de Mercado Popular (HMP), para preservar sua função social.

Movimentações estratégicas no setor

A JHSF acertou a venda de um conjunto de imóveis de luxo avaliados em R$ 4,6 bilhões, valor superior ao seu próprio market cap na B3. A operação será feita por meio de um veículo de investimento, possivelmente um fundo imobiliário, e inclui projetos como Reserva Cidade Jardim, São Paulo Surf Club e lotes em Boa Vista e Santa Helena.

Um grupo de empresários lançou a incorporadora Muze e seu primeiro projeto, o complexo Tempo na Praia Brava (Itajaí), com torres residenciais e um hotel Emiliano. Avaliado em R$ 2,5 bilhões, o empreendimento aposta no luxo discreto, com apartamentos acima de 400 m² e unidades que podem superar R$ 100 milhões.

As famílias Feffer e Ometto tornaram-se sócias da Naara, incorporadora fundada por Joseph Nigri e focada em projetos de alto padrão para a terceira idade. O primeiro empreendimento será lançado em Higienópolis com valor geral de vendas (VGV) de R$ 150 milhões, enquanto os aportes incluem R$ 60 milhões da Rio das Pedras e participação minoritária de Josef Feffer.

Housi e Vitacon anunciam um prédio de R$ 200 milhões em Perdizes (SP), próximo ao Allianz Parque, com 376 unidades residenciais no conceito “Multiclass”. O projeto tem entrega prevista para 2028 e VGV estimado em R$ 207,3 milhões.

A Cyrela, por meio da Vivaz, estreia a linha dedicada a megaempreendimentos do Minha Casa Minha Vida em grandes terrenos de São Paulo. A aposta é que esse formato concentre milhares de unidades por projeto e represente até um terço dos lançamentos da subsidiária nos próximos anos.

A CUB, startup de gestão de recebíveis para o setor imobiliário, levantou US$ 5,5 milhões (cerca de R$ 30 milhões) em rodada Série A liderada por Alexia Ventures e Upload Ventures. O aporte vai acelerar a plataforma que integra automação de cobrança, conciliação bancária, análise de dados e acesso a crédito.