GRI InstituteO reset do financiamento imobiliário no país
Conheça a visão de especialistas sobre o “novo jogo” do funding - de fontes tradicionais ao mercado de capitais
31 de outubro de 2025Mercado Imobiliário
por Isabella Toledo
Principais insights:
O mercado imobiliário brasileiro entra em 2026 em um ponto de inflexão do financiamento: menos dependente da poupança e mais ancorado em uma combinação de capital de mercado, instrumentos de securitização e novas fontes públicas, com destaque para o reforço do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) e as novas diretrizes do Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
O GRI Funding Opportunities Brazil 2025 reuniu os stakeholders mais influentes do setor para explorar as implicações desse novo arranjo, com painéis dedicados a securitização e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), fundos imobiliários (FIIs), family offices e capital privado, além de analisar a agenda econômica que impacta diretamente o crédito e o financiamento imobiliário.
Explore as principais discussões e insights do encontro neste guia essencial para os líderes do setor, oferecendo a inteligência necessária para a tomada de decisões estratégicas e a capitalização de oportunidades em um mercado em constante evolução.
O futuro do financiamento habitacional
O setor imobiliário tem se tornado um foco estratégico para o Governo Federal, especialmente em função do déficit habitacional crítico do país, que atualmente está em sua mínima histórica de 7,6%.
O programa MCMV projeta a entrega de 3 milhões de unidades até 2026, superando em 50% a meta inicial, e anunciou a destinação de R$ 40 bilhões para reformas voltadas à redução da inadequação habitacional.
Um ponto central do debate é a crise estrutural do SFH, voltado à classe média, que enfrenta dificuldades devido à dependência da caderneta de poupança.
Essa forma de financiamento está passando por uma redução estrutural, impulsionada pela existência de opções mais rentáveis, o que tem gerado escassez de recursos e forçado as instituições financeiras a buscar soluções mais complexas para o funding.
Para mitigar essa escassez, o Governo implementou novas políticas, como o uso de recursos do Fundo Social (originados do pré-sal), que têm ajudado a aliviar a pressão sobre o SFH.
Além disso, propôs a reformulação do SFH e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE). O objetivo dessa reformulação é direcionar a totalidade dos recursos da poupança para o crédito habitacional, por meio de mecanismos de equalização.
A meta do setor é aumentar a participação do financiamento habitacional no PIB, atualmente em cerca de 10%, para uma faixa entre 15% e 20% nos próximos dez anos.
Há um consenso crescente de que o futuro do mercado imobiliário passará por uma redução da dependência de fontes incentivadas, que devem se concentrar principalmente na população de baixa renda, enquanto o mercado de capitais se consolidará como o principal provedor de crédito para a classe média e acima.
No entanto, o contexto macroeconômico ainda representa uma limitação importante. Embora o Brasil tenha recuperado um ritmo de crescimento do PIB entre 2,5% e 3% e projete uma inflação média mais baixa desde o Plano Real, as taxas de juros reais continuam elevadas.
A expectativa é que, em 2026, as taxas de juros comecem a diminuir, caminhando para um patamar mais próximo de 12%, aliado ao desenvolvimento de uma política fiscal que permita uma postura mais neutra da política monetária. Isso pode proporcionar condições mais favoráveis para que as famílias tenham maior poder de compra e acesso ao crédito.
O caminho para o crescimento sustentável do mercado imobiliário está aberto, mas exige ações contínuas em várias frentes, incluindo a reforma fiscal, a redução das taxas de juros e o fortalecimento das parcerias público-privadas, a fim de garantir o crescimento de um setor vital para a economia brasileira.
Perspectivas para o crédito imobiliário
O setor de crédito imobiliário no Brasil está passando por um processo de reequilíbrio e normalização, impulsionado pela entrada de novas fontes de financiamento e estruturas.
Em 2025, o financiamento para aquisição de imóveis novos experimentou uma queda acentuada, especialmente após abril, quando as altas taxas de juros começaram a ter seu efeito completo. O SBPE registrou uma redução na captação líquida da poupança, que segue em território negativo.
Com a diminuição do repasse de recursos do SBPE para as incorporadoras, os bancos passaram a recorrer a recursos livres para a construção, refletindo a transição no modelo de financiamento. Apesar desse cenário, o mercado imobiliário segue resiliente, com índices de inadimplência historicamente baixos.
A composição do funding no setor já reflete essa mudança. Em setembro de 2023, a poupança representava 35% do total, enquanto atualmente responde por cerca de 30%. Ao mesmo tempo, instrumentos do mercado de capitais, como os CRIs e os FIIs, aumentaram sua participação no financiamento.
O Banco Central anunciou mudanças regulatórias que impactarão a estrutura do crédito imobiliário. Essas alterações, com vigência a partir de 2027, incluem o aumento da exigibilidade da poupança para o crédito imobiliário e a limitação do SFH.
Essas mudanças podem alterar significativamente a lógica de funding dos bancos, com a poupança assumindo o financiamento do curto prazo e exigindo instrumentos mais caros para o longo prazo.
Embora as regras de 2027 ainda tragam incertezas, 2026 pode ser um ano de intensificação das atividades de crédito, com os bancos aproveitando as condições do regime atual antes das mudanças regulatórias.
Apesar das altas taxas de juros, os bancos continuam com apetite pelo setor imobiliário, desenvolvendo alternativas flexíveis através do mercado de capitais para complementar os modelos tradicionais. Um exemplo é o produto "ciclo estendido", que abrange todo o processo de financiamento, desde a aquisição do terreno até o repasse.
A visão predominante é de que o crédito imobiliário amadureceu e está seguindo um caminho de crescimento independente. O setor, altamente profissionalizado, está adotando novas formas de operação para continuar atendendo seus clientes de maneira competitiva, sem depender exclusivamente da poupança.
O novo jogo do funding
O cenário de financiamento para o setor imobiliário no Brasil reforça a ideia de que o desafio não é a falta de recursos, mas a escassez de capital a um custo competitivo. Embora haja abundância de funding disponível, as empresas precisam de alto nível de preparação e disciplina para acessá-lo de maneira eficaz.
Com o mercado de capitais se consolidando como a principal fonte de liquidez, instrumentos como fundos imobiliários, CRIs e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) desempenham papel central, especialmente na absorção de recursos dos investidores pessoa física.
As emissões de CRIs representaram uma parcela significativa das operações nos últimos anos, refletindo a adaptação do mercado à nova realidade econômica, com destaque para incorporações e loteamentos.
Para acessar essas fontes de capital, o planejamento estratégico e boas práticas de governança, como auditorias de balanço e a formação de Conselhos de Administração, são fundamentais para aumentar a confiança e transparência, mitigar riscos e fortalecer a tomada de decisões.
Na avaliação de crédito, o credor observa os cinco C’s: Caráter, Capacidade, Capital, Colateral e Condições. A honestidade do executivo, o relacionamento de longo prazo com credores, a capacidade de endividamento alinhada ao ciclo do setor imobiliário, o capital disponível, as garantias reais e o ambiente regulatório e econômico são fatores cruciais para a análise.
Buscar múltiplas ofertas e estabelecer relacionamentos bilaterais com bancos e investidores institucionais é uma estratégia eficaz, pois depender de uma única fonte de crédito pode resultar em custos mais altos.
Manter operações bilaterais e emissões de debêntures institucionais vivas pode acessar fundos com maior profundidade, mesmo que essas debêntures tenham custo superior aos CRIs incentivados.
A venda de ativos também surge como uma alternativa recorrente para equilibrar o funding, permitindo que as empresas tragam caixa sem recorrer a altas alavancagens. Embora as taxas de desconto possam ser altas, a venda de carteiras de recebíveis ou de projetos a performar para fundos pode ser uma opção viável.
Com a expectativa de queda nas taxas de juros, o setor, altamente sensível ao custo do capital, deve atrair ainda mais recursos, desde que a disciplina financeira e a transparência corporativa sejam mantidas.
A resiliência dos fundos imobiliários
A constante comparação entre FIIs e a renda fixa representa um desafio contínuo para os gestores, que precisam destacar a resiliência e a atratividade desses ativos, especialmente em um cenário de altas taxas de juros. Apesar dessa pressão, o volume de captação de equity por meio de FIIs tem sido expressivo.
Esse crescimento não se deve apenas ao capital novo, mas também a movimentos externos, como a troca de cotas - mecanismo pelo qual fundos imobiliários emitem novas cotas como forma de pagamento na aquisição de imóveis, em substituição ao desembolso financeiro - e ao aumento do número de investidores.
A consolidação do mercado traz vantagens significativas, como a capacidade de acessar mais recursos para novas aquisições, mesmo em mercados desafiadores. A diversificação dos portfólios também contribui para a estabilidade dos fundos, reduzindo o risco associado a ativos específicos e melhorando a resistência às volatilidades do mercado.
Em termos de captação de recursos, a inovação tem sido essencial. Fundos com duas classes de cotas, por exemplo, têm se mostrado uma solução eficaz para atender diferentes perfis de investidores, oferecendo opções tanto para aqueles que buscam maior segurança, com retornos próximos à renda fixa, quanto para os dispostos a assumir mais risco em busca de retornos mais elevados, criando uma espécie de alavancagem do retorno do equity.
Além disso, a demanda por novos tipos de ativos tem se expandido. O mercado de data centers, por exemplo, tem se mostrado uma oportunidade atraente, refletindo uma tendência global e um ritmo intenso de troca de capital.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelo mercado, a principal função da gestão de um FII continua sendo gerar valor a longo prazo, com foco na entrega de dividendos ajustados à inflação e ao prazo, ao invés de buscar rentabilidade de curto prazo ou tentar acertar o timing de mercado.
Em um ambiente de juros elevados, o gestor deve ser capaz de monetizar ativos maduros ou desalinhados com a tese central do fundo, gerando caixa e reinvestindo em oportunidades mais rentáveis.
A alocação seletiva de ativos é fundamental, priorizando imóveis de alta qualidade, com resiliência contra a inflação e altas taxas de ocupação. O endividamento estratégico também é crucial, sendo utilizado para alavancar ativos e tomar dívida mais barata, gerando retorno superior ao custo e aumentando o dividendo para o cotista.
Fundos com teses mais amplas, que combinam ativos de tijolo e papel, oferecem maior flexibilidade para manter retornos estáveis, mesmo em momentos de estresse econômico. A disciplina de capital é, portanto, essencial para a gestão de um FII bem-sucedido.
Proteção patrimonial impulsiona family offices
Para famílias de alto patrimônio, o investimento imobiliário continua sendo um pilar fundamental no portfólio, oferecendo proteção contra a inflação, segurança através de ativos físicos e a capacidade de gerar tanto renda quanto valorização de capital.
A alocação em imobiliário, no entanto, varia de acordo com a visão estratégica de cada grupo familiar. Famílias com uma visão proprietária preferem manter o controle majoritário sobre os projetos, sendo responsáveis por uma parcela significativa do empreendimento, especialmente em grandes projetos como imóveis corporativos e shopping centers, ao invés de participar de operações minoritárias.
A principal vantagem desse modelo de investimento é o seu horizonte de longo prazo. Ao contrário dos investidores institucionais, que têm prazos definidos para a saída, as famílias não têm um prazo específico e preferem manter os recursos investidos indefinidamente, desde que o projeto continue gerando bons retornos.
Esse modelo oferece maior flexibilidade, permitindo uma adaptação mais fácil às estruturas de transação, prazos e governança, em comparação com os fundos institucionais, que normalmente têm mandatos mais rígidos.
A abordagem dos family offices, voltada para uma parceria de longo prazo, se distingue da visão institucional, que muitas vezes foca em retornos rápidos e exige garantias excessivas, criando burocracia que pode retardar o processo. O investimento familiar, por sua vez, é mais ágil e flexível, permitindo movimentações de capital mais rápidas.
Embora o foco permaneça em projetos locais, uma parte do capital está sendo direcionada para mercados internacionais, como os Estados Unidos, buscando proteção patrimonial.
Isso não significa que as famílias tenham abandonado o Brasil, mas sim que, para atrair esse capital de volta, é necessário criar um ambiente regulatório e institucional mais seguro, além de promover projetos imobiliários bem estruturados e inovadores.
A mensagem para o mercado é clara: o capital privado está disponível e aberto a oportunidades em diversos segmentos, incluindo logística, varejo, residencial, corporativo e loteamento.
O verdadeiro desafio reside em apresentar projetos sólidos, transparentes e alinhados com o horizonte de longo prazo e a visão empreendedora dos family offices, garantindo o sucesso das futuras parcerias.
Democratização de investimentos avança com crowdfunding
O crowdfunding imobiliário no Brasil tem expectativas de alcançar R$ 5 bilhões em emissões em 2025, refletindo a crescente confiança no modelo como uma alternativa viável de captação, especialmente para pequenos e médios empreendedores, que enfrentam desafios no acesso ao financiamento tradicional.
A consulta pública da CVM, que propõe o aumento dos limites de emissão para até R$ 25 milhões, e até R$ 50 milhões para modalidades com securitização, visa fortalecer o mercado, mas também levanta preocupações sobre o impacto das novas exigências regulatórias e de governança, que podem resultar em custos mais elevados para os empreendedores menores.
A securitização tem ganhado relevância devido à sua estrutura regulada pela CVM, com balanços auditados e patrimônio separado. Isso facilita a governança, pois a responsabilidade recai sobre a securitizadora, simplificando o processo para os incorporadores e oferecendo maior proteção ao investidor.
A tokenização também foi debatida como uma evolução do crowdfunding, destacando o ganho fiscal, já que o investidor não paga Imposto de Renda sobre o Título de Oferta Pública (TOLPI). No entanto, sua adoção ainda enfrenta desafios, como a conversão entre o real e o digital e a falta de um mercado secundário eficiente.
A tecnologia blockchain, que possibilita um monitoramento mais eficiente e a criação de contratos inteligentes, também apresenta desafios regulatórios que precisam ser endereçados pela CVM.
Embora o modelo tenha democratizado o acesso ao mercado, a educação financeira dos investidores de varejo continua sendo um desafio. A preocupação principal não está no nível de patrimônio, mas na concentração de risco nos portfólios, o que exige maior conscientização e preparação para garantir investimentos mais seguros e equilibrados.
FDIC mantém ritmo de crescimento
O mercado de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FDICs) no Brasil tem experimentado um crescimento robusto, consolidando-se como uma alternativa essencial ao financiamento bancário no setor imobiliário.
Nos últimos anos, o volume de recursos captados através desse modelo dobrou, refletindo a evolução e o amadurecimento do mercado de títulos privados no país.
Esse crescimento tem sido impulsionado não apenas pela ampliação do acesso ao investidor, mas também pela capacidade dos FDICs de lidar com a complexidade e a subordinação de carteiras pulverizadas, características que permitem viabilizar operações mais sofisticadas e de maior porte.
Esses fundos se consolidaram como um instrumento estrutural no financiamento imobiliário, especialmente em projetos que exigem flexibilidade e uma gestão adaptada à realidade do mercado.
Em comparação com os modelos tradicionais, os FDICs oferecem uma maior capacidade de diversificação, tornando-se ideais para financiar projetos de médio porte, como loteamentos e operações de crédito pro soluto, que frequentemente ficam fora do alcance dos investidores tradicionais.
Recentemente, um marco regulatório importante fortaleceu a governança e a transparência, ao reconhecer o papel crucial do gestor, equiparando-o aos administradores e custodiantes, com a responsabilidade primária pela verificação de lastro e a contratação de consultores.
Essa regulamentação também avançou na distribuição dos fundos no varejo, permitindo, de forma gradual, que pequenos investidores acessem esse tipo de fundo, embora a complexidade e os custos fiscais em comparação com instrumentos como os CRIs possam retardar sua adoção.
A falta de isonomia tributária continua sendo uma questão relevante para o mercado. O custo de capital mais elevado dos FDICs, em comparação com os CRIs, torna esse modelo menos atraente para alguns investidores, especialmente para a pessoa física, que se beneficia da isenção fiscal nos CRIs.
No entanto, os fundos são mais adequados para operações complexas, onde a estrutura do fundo oferece vantagens, como no caso de carteiras pulverizadas ou modelos de crédito mais sofisticados, como o financiamento da população de renda informal, que, embora não se enquadre no crédito bancário tradicional, demonstra capacidade de pagamento.
A seletividade do private equity
O mercado de private equity (PE) no setor imobiliário brasileiro tem enfrentado um período de contenção de capital, resultado de uma combinação de fatores globais e locais.
Gestoras com longa experiência no Brasil, como Brookfield, GTIS e HEC, confirmam as dificuldades de captação e a pressão por saídas mais rápidas, refletindo o cenário global de juros elevados, que, após a pandemia, aumentou significativamente o custo do capital e restringiu a liquidez disponível para investimentos de maior risco.
O capital estrangeiro tem se concentrado em oportunidades mais evidentes e menos arriscadas, especialmente em mercados mais estáveis como a Europa e os Estados Unidos, onde a crise gerou boas oportunidades de distressed investment e a aquisição de grandes portfólios imobiliários.
Esse movimento tem causado um descompasso no apetite global, com investidores de private equity, sobrecarregados com ativos ilíquidos devido à escassez de IPOs nos últimos anos, enfrentando dificuldades para realizar liquidez e novos compromissos de investimento.
Embora o capital não tenha desaparecido completamente, o fluxo de investimentos tem se tornado mais seletivo. A retomada do capital global e local depende de um ajuste fiscal que possa reduzir a taxa de juros real.
A expectativa é que, caso isso ocorra, haja uma compressão significativa nos valores, o que poderá impactar positivamente as taxas de capitalização e reativar a valorização dos fundos imobiliários.
Para investidores locais, como family offices e fundos de pensão, a alta taxa de juros nominal (NTN-B) continua sendo um obstáculo, pois esses investidores não migrarão de ativos de renda fixa para ativos ilíquidos de private equity enquanto a NTN-B oferecer retornos mais atrativos.
Diante desse cenário, as gestoras ativas têm adotado estratégias para mitigar os riscos de liquidez e aumentar a previsibilidade de saídas. Muitas estão encurtando suas teses de investimento, focando em ciclos de desinvestimento mais curtos, de quatro a cinco anos, devido à imprevisibilidade das janelas de saída no Brasil.
No caso dos investidores estrangeiros, a exigência de uma taxa interna de retorno (TIR) mínima de 20% em dólar - cerca de 25% em reais líquidos de impostos - representa uma barreira significativa, o que limita a atratividade do mercado para esse perfil de investidor.
Entre os diversos tipos de investidores, os setores preferidos para o capital de private equity são logística, com foco em e-commerce, e hotéis, que têm se mostrado ativos resilientes, especialmente após a pandemia. Em contrapartida, setores como escritórios e shopping centers enfrentam maior resistência, tanto localmente quanto globalmente.
Tokenização abre novas rotas de funding
A revolução no mercado imobiliário, impulsionada pela tecnologia e pela introdução da tokenização de ativos, tem o potencial de reconfigurar o ciclo de securitização, criando novos caminhos para a captação de recursos, aumentando a liquidez e democratizando o acesso ao mercado.
Apesar das promessas, a tokenização enfrenta desafios regulatórios significativos, especialmente em relação ao registro de imóveis no Brasil, onde o sistema jurídico tradicional entra em conflito com as inovações tecnológicas.
Algumas plataformas estão utilizando o sandbox regulatório para testar essa desintermediação na distribuição de ofertas, assumindo responsabilidades formais de distribuição, como em ofertas tradicionais.
O maior obstáculo à adoção plena da tokenização de imóveis no Brasil está na complexidade da legislação, particularmente no que diz respeito à qualificação jurídica e ao registro de bens.
O sistema jurídico brasileiro exige o registro formal de imóveis para garantir a validade e a segurança das transações, com o risco de que qualquer transação não registrada seja considerada inválida, como demonstrado pelo risco de fraudes no sistema de pagamento eletrônico.
A função do cartório vai além de simplesmente armazenar dados; ele é responsável pela qualificação jurídica e pela publicidade das transações imobiliárias, garantindo a segurança jurídica das operações.
Portanto, a transição para um sistema de tokenização exige um alinhamento entre as inovações tecnológicas e os processos legais estabelecidos.
Para os incorporadores, a tokenização oferece vantagens operacionais concretas, como a capacidade de captar capital de investidores que, de outra forma, não teriam acesso ao mercado, permitindo a criação de equity fracionado.
Além disso, a blockchain possibilita a automatização de processos, como a eliminação de assinaturas físicas, o pagamento direto de comissões e o controle de recebíveis via plataformas digitais, gerando uma economia significativa em custos operacionais e tributários.
O verdadeiro motor dessa transformação é a tecnologia blockchain, com sua capacidade de registrar de forma descentralizada e imutável, sem depender dos intermediários tradicionais.
O desafio permanece em como adaptar a regulação existente para não impedir o avanço dessa tecnologia, mas integrá-la ao sistema jurídico de forma que atinja seu potencial máximo, transformando a forma como os investimentos imobiliários são realizados no Brasil.
A expansão do Minha Casa, Minha Vida
O MCMV foi relançado com reservas financeiras e melhorias operacionais, como automação, qualificação de projetos, retomada da faixa 1 e linhas para a classe média, elevando a segurança de contratação e a previsibilidade de entrega.
A Caixa reforça o direcionamento de crédito, e o governo sinaliza metas mais ambiciosas de unidades, com orçamento multissetorial em habitação, saneamento e mobilidade, para blindar o ciclo habitacional dos efeitos dos juros e garantir a continuidade física das obras.
A diretriz de funding prioriza a alocação da poupança em prazos curtos e o acionamento de instrumentos mais aderentes ao longo prazo, preservando o fluxo de lançamentos e a capacidade de repasse e reduzindo gargalos sem paralisar canteiros, em linha com um crédito que amadurece e diversifica suas fontes.
No Norte, foram anunciados acréscimos nos tetos do FAR (Fundo de Arrendamento Residencial) e subsídios do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para destravar a viabilidade e elevar de forma substancial a participação regional nos recursos do sistema.
No Centro-Oeste, combinam-se subsídios municipais e estaduais, flexibilização urbanística, regularização fundiária e produtos de locação social para acelerar a demanda elegível e viabilizar empreendimentos mais aderentes ao tecido urbano.
No Sudeste, o credenciamento para aquisição de unidades prontas ou em aprovação e os programas de melhoria habitacional em domicílios regularizados têm acelerado entregas e dado liquidez a estoques em um ambiente de juros elevados. Em paralelo, o reaproveitamento de ativos públicos via retrofit cria oferta com impacto urbano e uso eficiente do patrimônio público.
Persistem gargalos críticos: heterogeneidade municipal, prazos de licenciamento e registro, e assimetria de capacidades técnicas nas prefeituras. A trajetória sustentável requer digitalização registral, padronização mínima de processos, metas de prazo e coordenação entre ministérios, estados, municípios e cartórios - pilares que reduzem risco e custo de capital.
Para as incorporadoras, o novo ciclo impõe disciplina de capital, governança e produtos aderentes à renda e ao estoque local: localização qualificada, cronogramas realistas, relacionamento institucional desde a origem do terreno e compliance rigoroso com os financiadores.
Principais insights:
- A matriz de financiamento entra em novo ciclo, com menor dependência da poupança e maior protagonismo do mercado de capitais;
- A política habitacional ganha densidade institucional para destravar projetos, reduzir assimetrias e ampliar o alcance do crédito;
- Do lado das empresas, governança robusta, planejamento financeiro e diversificação de fontes tornam-se pré-requisitos para acessar capital em condições competitivas.
- No ecossistema de mercado, FIIs demonstram resiliência, crowdfunding avança, e FDICs se consolidam;
- O private equity adota maior seletividade, privilegiando teses defensivas e horizontes de saída mais claros;
- Tokenização emerge como vetor de liquidez e acesso, mas sua adoção em escala depende de harmonização jurídica e interoperabilidade com os registros e processos existentes.
- Relançamento do MCMV fomenta um novo ciclo da habitação, com ações regionais para viabilizar projetos e disciplina de execução para ampliar a oferta.
O mercado imobiliário brasileiro entra em 2026 em um ponto de inflexão do financiamento: menos dependente da poupança e mais ancorado em uma combinação de capital de mercado, instrumentos de securitização e novas fontes públicas, com destaque para o reforço do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) e as novas diretrizes do Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
O GRI Funding Opportunities Brazil 2025 reuniu os stakeholders mais influentes do setor para explorar as implicações desse novo arranjo, com painéis dedicados a securitização e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), fundos imobiliários (FIIs), family offices e capital privado, além de analisar a agenda econômica que impacta diretamente o crédito e o financiamento imobiliário.
Explore as principais discussões e insights do encontro neste guia essencial para os líderes do setor, oferecendo a inteligência necessária para a tomada de decisões estratégicas e a capitalização de oportunidades em um mercado em constante evolução.
O futuro do financiamento habitacional
O setor imobiliário tem se tornado um foco estratégico para o Governo Federal, especialmente em função do déficit habitacional crítico do país, que atualmente está em sua mínima histórica de 7,6%.
O programa MCMV projeta a entrega de 3 milhões de unidades até 2026, superando em 50% a meta inicial, e anunciou a destinação de R$ 40 bilhões para reformas voltadas à redução da inadequação habitacional.
Um ponto central do debate é a crise estrutural do SFH, voltado à classe média, que enfrenta dificuldades devido à dependência da caderneta de poupança.
Essa forma de financiamento está passando por uma redução estrutural, impulsionada pela existência de opções mais rentáveis, o que tem gerado escassez de recursos e forçado as instituições financeiras a buscar soluções mais complexas para o funding.
Para mitigar essa escassez, o Governo implementou novas políticas, como o uso de recursos do Fundo Social (originados do pré-sal), que têm ajudado a aliviar a pressão sobre o SFH.
Além disso, propôs a reformulação do SFH e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE). O objetivo dessa reformulação é direcionar a totalidade dos recursos da poupança para o crédito habitacional, por meio de mecanismos de equalização.
A meta do setor é aumentar a participação do financiamento habitacional no PIB, atualmente em cerca de 10%, para uma faixa entre 15% e 20% nos próximos dez anos.
Há um consenso crescente de que o futuro do mercado imobiliário passará por uma redução da dependência de fontes incentivadas, que devem se concentrar principalmente na população de baixa renda, enquanto o mercado de capitais se consolidará como o principal provedor de crédito para a classe média e acima.
No entanto, o contexto macroeconômico ainda representa uma limitação importante. Embora o Brasil tenha recuperado um ritmo de crescimento do PIB entre 2,5% e 3% e projete uma inflação média mais baixa desde o Plano Real, as taxas de juros reais continuam elevadas.
A expectativa é que, em 2026, as taxas de juros comecem a diminuir, caminhando para um patamar mais próximo de 12%, aliado ao desenvolvimento de uma política fiscal que permita uma postura mais neutra da política monetária. Isso pode proporcionar condições mais favoráveis para que as famílias tenham maior poder de compra e acesso ao crédito.
O caminho para o crescimento sustentável do mercado imobiliário está aberto, mas exige ações contínuas em várias frentes, incluindo a reforma fiscal, a redução das taxas de juros e o fortalecimento das parcerias público-privadas, a fim de garantir o crescimento de um setor vital para a economia brasileira.
Perspectivas para o crédito imobiliário
O setor de crédito imobiliário no Brasil está passando por um processo de reequilíbrio e normalização, impulsionado pela entrada de novas fontes de financiamento e estruturas.
Em 2025, o financiamento para aquisição de imóveis novos experimentou uma queda acentuada, especialmente após abril, quando as altas taxas de juros começaram a ter seu efeito completo. O SBPE registrou uma redução na captação líquida da poupança, que segue em território negativo.
Com a diminuição do repasse de recursos do SBPE para as incorporadoras, os bancos passaram a recorrer a recursos livres para a construção, refletindo a transição no modelo de financiamento. Apesar desse cenário, o mercado imobiliário segue resiliente, com índices de inadimplência historicamente baixos.
A composição do funding no setor já reflete essa mudança. Em setembro de 2023, a poupança representava 35% do total, enquanto atualmente responde por cerca de 30%. Ao mesmo tempo, instrumentos do mercado de capitais, como os CRIs e os FIIs, aumentaram sua participação no financiamento.
O Banco Central anunciou mudanças regulatórias que impactarão a estrutura do crédito imobiliário. Essas alterações, com vigência a partir de 2027, incluem o aumento da exigibilidade da poupança para o crédito imobiliário e a limitação do SFH.
Essas mudanças podem alterar significativamente a lógica de funding dos bancos, com a poupança assumindo o financiamento do curto prazo e exigindo instrumentos mais caros para o longo prazo.
Embora as regras de 2027 ainda tragam incertezas, 2026 pode ser um ano de intensificação das atividades de crédito, com os bancos aproveitando as condições do regime atual antes das mudanças regulatórias.
Apesar das altas taxas de juros, os bancos continuam com apetite pelo setor imobiliário, desenvolvendo alternativas flexíveis através do mercado de capitais para complementar os modelos tradicionais. Um exemplo é o produto "ciclo estendido", que abrange todo o processo de financiamento, desde a aquisição do terreno até o repasse.
A visão predominante é de que o crédito imobiliário amadureceu e está seguindo um caminho de crescimento independente. O setor, altamente profissionalizado, está adotando novas formas de operação para continuar atendendo seus clientes de maneira competitiva, sem depender exclusivamente da poupança.
O novo jogo do funding
O cenário de financiamento para o setor imobiliário no Brasil reforça a ideia de que o desafio não é a falta de recursos, mas a escassez de capital a um custo competitivo. Embora haja abundância de funding disponível, as empresas precisam de alto nível de preparação e disciplina para acessá-lo de maneira eficaz.
Com o mercado de capitais se consolidando como a principal fonte de liquidez, instrumentos como fundos imobiliários, CRIs e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) desempenham papel central, especialmente na absorção de recursos dos investidores pessoa física.
As emissões de CRIs representaram uma parcela significativa das operações nos últimos anos, refletindo a adaptação do mercado à nova realidade econômica, com destaque para incorporações e loteamentos.
Para acessar essas fontes de capital, o planejamento estratégico e boas práticas de governança, como auditorias de balanço e a formação de Conselhos de Administração, são fundamentais para aumentar a confiança e transparência, mitigar riscos e fortalecer a tomada de decisões.
Na avaliação de crédito, o credor observa os cinco C’s: Caráter, Capacidade, Capital, Colateral e Condições. A honestidade do executivo, o relacionamento de longo prazo com credores, a capacidade de endividamento alinhada ao ciclo do setor imobiliário, o capital disponível, as garantias reais e o ambiente regulatório e econômico são fatores cruciais para a análise.
Buscar múltiplas ofertas e estabelecer relacionamentos bilaterais com bancos e investidores institucionais é uma estratégia eficaz, pois depender de uma única fonte de crédito pode resultar em custos mais altos.
Manter operações bilaterais e emissões de debêntures institucionais vivas pode acessar fundos com maior profundidade, mesmo que essas debêntures tenham custo superior aos CRIs incentivados.
A venda de ativos também surge como uma alternativa recorrente para equilibrar o funding, permitindo que as empresas tragam caixa sem recorrer a altas alavancagens. Embora as taxas de desconto possam ser altas, a venda de carteiras de recebíveis ou de projetos a performar para fundos pode ser uma opção viável.
Com a expectativa de queda nas taxas de juros, o setor, altamente sensível ao custo do capital, deve atrair ainda mais recursos, desde que a disciplina financeira e a transparência corporativa sejam mantidas.
A resiliência dos fundos imobiliários
A constante comparação entre FIIs e a renda fixa representa um desafio contínuo para os gestores, que precisam destacar a resiliência e a atratividade desses ativos, especialmente em um cenário de altas taxas de juros. Apesar dessa pressão, o volume de captação de equity por meio de FIIs tem sido expressivo.
Esse crescimento não se deve apenas ao capital novo, mas também a movimentos externos, como a troca de cotas - mecanismo pelo qual fundos imobiliários emitem novas cotas como forma de pagamento na aquisição de imóveis, em substituição ao desembolso financeiro - e ao aumento do número de investidores.
A consolidação do mercado traz vantagens significativas, como a capacidade de acessar mais recursos para novas aquisições, mesmo em mercados desafiadores. A diversificação dos portfólios também contribui para a estabilidade dos fundos, reduzindo o risco associado a ativos específicos e melhorando a resistência às volatilidades do mercado.
Em termos de captação de recursos, a inovação tem sido essencial. Fundos com duas classes de cotas, por exemplo, têm se mostrado uma solução eficaz para atender diferentes perfis de investidores, oferecendo opções tanto para aqueles que buscam maior segurança, com retornos próximos à renda fixa, quanto para os dispostos a assumir mais risco em busca de retornos mais elevados, criando uma espécie de alavancagem do retorno do equity.
Além disso, a demanda por novos tipos de ativos tem se expandido. O mercado de data centers, por exemplo, tem se mostrado uma oportunidade atraente, refletindo uma tendência global e um ritmo intenso de troca de capital.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelo mercado, a principal função da gestão de um FII continua sendo gerar valor a longo prazo, com foco na entrega de dividendos ajustados à inflação e ao prazo, ao invés de buscar rentabilidade de curto prazo ou tentar acertar o timing de mercado.
Em um ambiente de juros elevados, o gestor deve ser capaz de monetizar ativos maduros ou desalinhados com a tese central do fundo, gerando caixa e reinvestindo em oportunidades mais rentáveis.
A alocação seletiva de ativos é fundamental, priorizando imóveis de alta qualidade, com resiliência contra a inflação e altas taxas de ocupação. O endividamento estratégico também é crucial, sendo utilizado para alavancar ativos e tomar dívida mais barata, gerando retorno superior ao custo e aumentando o dividendo para o cotista.
Fundos com teses mais amplas, que combinam ativos de tijolo e papel, oferecem maior flexibilidade para manter retornos estáveis, mesmo em momentos de estresse econômico. A disciplina de capital é, portanto, essencial para a gestão de um FII bem-sucedido.
Proteção patrimonial impulsiona family offices
Para famílias de alto patrimônio, o investimento imobiliário continua sendo um pilar fundamental no portfólio, oferecendo proteção contra a inflação, segurança através de ativos físicos e a capacidade de gerar tanto renda quanto valorização de capital.
A alocação em imobiliário, no entanto, varia de acordo com a visão estratégica de cada grupo familiar. Famílias com uma visão proprietária preferem manter o controle majoritário sobre os projetos, sendo responsáveis por uma parcela significativa do empreendimento, especialmente em grandes projetos como imóveis corporativos e shopping centers, ao invés de participar de operações minoritárias.
A principal vantagem desse modelo de investimento é o seu horizonte de longo prazo. Ao contrário dos investidores institucionais, que têm prazos definidos para a saída, as famílias não têm um prazo específico e preferem manter os recursos investidos indefinidamente, desde que o projeto continue gerando bons retornos.
Esse modelo oferece maior flexibilidade, permitindo uma adaptação mais fácil às estruturas de transação, prazos e governança, em comparação com os fundos institucionais, que normalmente têm mandatos mais rígidos.
A abordagem dos family offices, voltada para uma parceria de longo prazo, se distingue da visão institucional, que muitas vezes foca em retornos rápidos e exige garantias excessivas, criando burocracia que pode retardar o processo. O investimento familiar, por sua vez, é mais ágil e flexível, permitindo movimentações de capital mais rápidas.
Embora o foco permaneça em projetos locais, uma parte do capital está sendo direcionada para mercados internacionais, como os Estados Unidos, buscando proteção patrimonial.
Isso não significa que as famílias tenham abandonado o Brasil, mas sim que, para atrair esse capital de volta, é necessário criar um ambiente regulatório e institucional mais seguro, além de promover projetos imobiliários bem estruturados e inovadores.
A mensagem para o mercado é clara: o capital privado está disponível e aberto a oportunidades em diversos segmentos, incluindo logística, varejo, residencial, corporativo e loteamento.
O verdadeiro desafio reside em apresentar projetos sólidos, transparentes e alinhados com o horizonte de longo prazo e a visão empreendedora dos family offices, garantindo o sucesso das futuras parcerias.
Democratização de investimentos avança com crowdfunding
O crowdfunding imobiliário no Brasil tem expectativas de alcançar R$ 5 bilhões em emissões em 2025, refletindo a crescente confiança no modelo como uma alternativa viável de captação, especialmente para pequenos e médios empreendedores, que enfrentam desafios no acesso ao financiamento tradicional.
A consulta pública da CVM, que propõe o aumento dos limites de emissão para até R$ 25 milhões, e até R$ 50 milhões para modalidades com securitização, visa fortalecer o mercado, mas também levanta preocupações sobre o impacto das novas exigências regulatórias e de governança, que podem resultar em custos mais elevados para os empreendedores menores.
A securitização tem ganhado relevância devido à sua estrutura regulada pela CVM, com balanços auditados e patrimônio separado. Isso facilita a governança, pois a responsabilidade recai sobre a securitizadora, simplificando o processo para os incorporadores e oferecendo maior proteção ao investidor.
A tokenização também foi debatida como uma evolução do crowdfunding, destacando o ganho fiscal, já que o investidor não paga Imposto de Renda sobre o Título de Oferta Pública (TOLPI). No entanto, sua adoção ainda enfrenta desafios, como a conversão entre o real e o digital e a falta de um mercado secundário eficiente.
A tecnologia blockchain, que possibilita um monitoramento mais eficiente e a criação de contratos inteligentes, também apresenta desafios regulatórios que precisam ser endereçados pela CVM.
Embora o modelo tenha democratizado o acesso ao mercado, a educação financeira dos investidores de varejo continua sendo um desafio. A preocupação principal não está no nível de patrimônio, mas na concentração de risco nos portfólios, o que exige maior conscientização e preparação para garantir investimentos mais seguros e equilibrados.
FDIC mantém ritmo de crescimento
O mercado de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FDICs) no Brasil tem experimentado um crescimento robusto, consolidando-se como uma alternativa essencial ao financiamento bancário no setor imobiliário.
Nos últimos anos, o volume de recursos captados através desse modelo dobrou, refletindo a evolução e o amadurecimento do mercado de títulos privados no país.
Esse crescimento tem sido impulsionado não apenas pela ampliação do acesso ao investidor, mas também pela capacidade dos FDICs de lidar com a complexidade e a subordinação de carteiras pulverizadas, características que permitem viabilizar operações mais sofisticadas e de maior porte.
Esses fundos se consolidaram como um instrumento estrutural no financiamento imobiliário, especialmente em projetos que exigem flexibilidade e uma gestão adaptada à realidade do mercado.
Em comparação com os modelos tradicionais, os FDICs oferecem uma maior capacidade de diversificação, tornando-se ideais para financiar projetos de médio porte, como loteamentos e operações de crédito pro soluto, que frequentemente ficam fora do alcance dos investidores tradicionais.
Recentemente, um marco regulatório importante fortaleceu a governança e a transparência, ao reconhecer o papel crucial do gestor, equiparando-o aos administradores e custodiantes, com a responsabilidade primária pela verificação de lastro e a contratação de consultores.
Essa regulamentação também avançou na distribuição dos fundos no varejo, permitindo, de forma gradual, que pequenos investidores acessem esse tipo de fundo, embora a complexidade e os custos fiscais em comparação com instrumentos como os CRIs possam retardar sua adoção.
A falta de isonomia tributária continua sendo uma questão relevante para o mercado. O custo de capital mais elevado dos FDICs, em comparação com os CRIs, torna esse modelo menos atraente para alguns investidores, especialmente para a pessoa física, que se beneficia da isenção fiscal nos CRIs.
No entanto, os fundos são mais adequados para operações complexas, onde a estrutura do fundo oferece vantagens, como no caso de carteiras pulverizadas ou modelos de crédito mais sofisticados, como o financiamento da população de renda informal, que, embora não se enquadre no crédito bancário tradicional, demonstra capacidade de pagamento.
A seletividade do private equity
O mercado de private equity (PE) no setor imobiliário brasileiro tem enfrentado um período de contenção de capital, resultado de uma combinação de fatores globais e locais.
Gestoras com longa experiência no Brasil, como Brookfield, GTIS e HEC, confirmam as dificuldades de captação e a pressão por saídas mais rápidas, refletindo o cenário global de juros elevados, que, após a pandemia, aumentou significativamente o custo do capital e restringiu a liquidez disponível para investimentos de maior risco.
O capital estrangeiro tem se concentrado em oportunidades mais evidentes e menos arriscadas, especialmente em mercados mais estáveis como a Europa e os Estados Unidos, onde a crise gerou boas oportunidades de distressed investment e a aquisição de grandes portfólios imobiliários.
Esse movimento tem causado um descompasso no apetite global, com investidores de private equity, sobrecarregados com ativos ilíquidos devido à escassez de IPOs nos últimos anos, enfrentando dificuldades para realizar liquidez e novos compromissos de investimento.
Embora o capital não tenha desaparecido completamente, o fluxo de investimentos tem se tornado mais seletivo. A retomada do capital global e local depende de um ajuste fiscal que possa reduzir a taxa de juros real.
A expectativa é que, caso isso ocorra, haja uma compressão significativa nos valores, o que poderá impactar positivamente as taxas de capitalização e reativar a valorização dos fundos imobiliários.
Para investidores locais, como family offices e fundos de pensão, a alta taxa de juros nominal (NTN-B) continua sendo um obstáculo, pois esses investidores não migrarão de ativos de renda fixa para ativos ilíquidos de private equity enquanto a NTN-B oferecer retornos mais atrativos.
Diante desse cenário, as gestoras ativas têm adotado estratégias para mitigar os riscos de liquidez e aumentar a previsibilidade de saídas. Muitas estão encurtando suas teses de investimento, focando em ciclos de desinvestimento mais curtos, de quatro a cinco anos, devido à imprevisibilidade das janelas de saída no Brasil.
No caso dos investidores estrangeiros, a exigência de uma taxa interna de retorno (TIR) mínima de 20% em dólar - cerca de 25% em reais líquidos de impostos - representa uma barreira significativa, o que limita a atratividade do mercado para esse perfil de investidor.
Entre os diversos tipos de investidores, os setores preferidos para o capital de private equity são logística, com foco em e-commerce, e hotéis, que têm se mostrado ativos resilientes, especialmente após a pandemia. Em contrapartida, setores como escritórios e shopping centers enfrentam maior resistência, tanto localmente quanto globalmente.
Tokenização abre novas rotas de funding
A revolução no mercado imobiliário, impulsionada pela tecnologia e pela introdução da tokenização de ativos, tem o potencial de reconfigurar o ciclo de securitização, criando novos caminhos para a captação de recursos, aumentando a liquidez e democratizando o acesso ao mercado.
Apesar das promessas, a tokenização enfrenta desafios regulatórios significativos, especialmente em relação ao registro de imóveis no Brasil, onde o sistema jurídico tradicional entra em conflito com as inovações tecnológicas.
Algumas plataformas estão utilizando o sandbox regulatório para testar essa desintermediação na distribuição de ofertas, assumindo responsabilidades formais de distribuição, como em ofertas tradicionais.
O maior obstáculo à adoção plena da tokenização de imóveis no Brasil está na complexidade da legislação, particularmente no que diz respeito à qualificação jurídica e ao registro de bens.
O sistema jurídico brasileiro exige o registro formal de imóveis para garantir a validade e a segurança das transações, com o risco de que qualquer transação não registrada seja considerada inválida, como demonstrado pelo risco de fraudes no sistema de pagamento eletrônico.
A função do cartório vai além de simplesmente armazenar dados; ele é responsável pela qualificação jurídica e pela publicidade das transações imobiliárias, garantindo a segurança jurídica das operações.
Portanto, a transição para um sistema de tokenização exige um alinhamento entre as inovações tecnológicas e os processos legais estabelecidos.
Para os incorporadores, a tokenização oferece vantagens operacionais concretas, como a capacidade de captar capital de investidores que, de outra forma, não teriam acesso ao mercado, permitindo a criação de equity fracionado.
Além disso, a blockchain possibilita a automatização de processos, como a eliminação de assinaturas físicas, o pagamento direto de comissões e o controle de recebíveis via plataformas digitais, gerando uma economia significativa em custos operacionais e tributários.
O verdadeiro motor dessa transformação é a tecnologia blockchain, com sua capacidade de registrar de forma descentralizada e imutável, sem depender dos intermediários tradicionais.
O desafio permanece em como adaptar a regulação existente para não impedir o avanço dessa tecnologia, mas integrá-la ao sistema jurídico de forma que atinja seu potencial máximo, transformando a forma como os investimentos imobiliários são realizados no Brasil.
A expansão do Minha Casa, Minha Vida
O MCMV foi relançado com reservas financeiras e melhorias operacionais, como automação, qualificação de projetos, retomada da faixa 1 e linhas para a classe média, elevando a segurança de contratação e a previsibilidade de entrega.
A Caixa reforça o direcionamento de crédito, e o governo sinaliza metas mais ambiciosas de unidades, com orçamento multissetorial em habitação, saneamento e mobilidade, para blindar o ciclo habitacional dos efeitos dos juros e garantir a continuidade física das obras.
A diretriz de funding prioriza a alocação da poupança em prazos curtos e o acionamento de instrumentos mais aderentes ao longo prazo, preservando o fluxo de lançamentos e a capacidade de repasse e reduzindo gargalos sem paralisar canteiros, em linha com um crédito que amadurece e diversifica suas fontes.
No Norte, foram anunciados acréscimos nos tetos do FAR (Fundo de Arrendamento Residencial) e subsídios do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para destravar a viabilidade e elevar de forma substancial a participação regional nos recursos do sistema.
No Centro-Oeste, combinam-se subsídios municipais e estaduais, flexibilização urbanística, regularização fundiária e produtos de locação social para acelerar a demanda elegível e viabilizar empreendimentos mais aderentes ao tecido urbano.
No Sudeste, o credenciamento para aquisição de unidades prontas ou em aprovação e os programas de melhoria habitacional em domicílios regularizados têm acelerado entregas e dado liquidez a estoques em um ambiente de juros elevados. Em paralelo, o reaproveitamento de ativos públicos via retrofit cria oferta com impacto urbano e uso eficiente do patrimônio público.
Persistem gargalos críticos: heterogeneidade municipal, prazos de licenciamento e registro, e assimetria de capacidades técnicas nas prefeituras. A trajetória sustentável requer digitalização registral, padronização mínima de processos, metas de prazo e coordenação entre ministérios, estados, municípios e cartórios - pilares que reduzem risco e custo de capital.
Para as incorporadoras, o novo ciclo impõe disciplina de capital, governança e produtos aderentes à renda e ao estoque local: localização qualificada, cronogramas realistas, relacionamento institucional desde a origem do terreno e compliance rigoroso com os financiadores.