Radar de Mercado: Infraestrutura deve desacelerar em 2026; destaques por setor

Avançam os critérios ESG nos transportes; setor ferroviário aquecido; curtailment bate recorde em setembro; e mais!

7 de outubro de 2025Infraestrutura
Por Belén Palkovsky

Confira a seguir a terceira edição do Radar de Mercado: um resumo das principais notícias e movimentações do setor de infraestrutura e energia no Brasil.

Panorama financeiro da infraestrutura

O ano de 2025 começou com uma agenda robusta de 87 concessões em infraestrutura, com o governo federal dando continuidade à estratégia de investimentos públicos e privados no setor. O último trimestre do ano concentra boa parte da movimentação, com 25 novos leilões de concessões, PPPs e privatizações programados para ocorrer na B3, em São Paulo.

Em termos de investimentos em infraestrutura, o Brasil registrou um aumento de 9,6% em 2024, alcançando R$ 266,8 bilhões. Para 2025, o setor deve alcançar R$ 277,9 bilhões, um crescimento de apenas 4,1% em relação ao ano passado. As empresas privadas devem responder por 72% do total investido. 

Nesse contexto, Luciana Costa, diretora de Infraestrutura do BNDES, alerta que a manutenção dos juros em patamar elevado pode gerar uma desaceleração nos investimentos. “Não dá para crescer tanto o investimento em infraestrutura com o nível que [a taxa de juros] está. O Brasil tem uma das taxas reais mais altas do mundo, e ela é uma concorrente direta do nosso investimento”, afirma. 

Por outro lado, a taxa de poupança bruta do Brasil, que ficou em torno de 14% do PIB em 2024, é uma das mais baixas entre as grandes economias emergentes. Em comparação, a Índia poupa cerca de 30% do PIB, e a China ultrapassa 44%, o que sustenta seus programas bilionários de investimento, como é o caso das operações chinesas no Brasil, que já ultrapassam 200 transações, com forte presença nos setores de energia, tecnologia e infraestrutura. 

Grupos como State Grid, CTG, SPIC, CCCC, e plataformas de e-commerce como Shopee, Temu, Shein e AliExpress têm planos de investimento no Brasil que podem chegar a R$ 200 bilhões até 2030. O foco está tanto no mercado doméstico de 215 milhões de consumidores quanto na inserção do Brasil em cadeias globais de fornecimento.

Avanços dos critérios ESG no setor de transportes terrestres

Na sexta-feira (10), será oficialmente apresentada a metodologia para qualificação de projetos de concessões de rodovias e ferrovias, com foco em descarbonização e resiliência climática. A medida, proposta pelo diretor da ANTT, Felipe Queiroz, pode atrair até R$ 21,5 bilhões em investimentos. O Programa de Sustentabilidade para Infraestrutura de Rodovias e Ferrovias (PSI) visa incentivar as concessionárias a adotarem práticas ambientais, garantindo o acesso a novos recursos para a implementação dessas ações.

Setor ferroviário registra crescimento histórico 

Os investimentos em infraestrutura ferroviária no Brasil atingiram níveis recordes em 2024, com R$ 13,7 bilhões aplicados pelo governo federal, quase o dobro do registrado em 2022. Nesse período, o modal movimentou 540,26 milhões de toneladas úteis, o maior volume dos últimos 20 anos. O Ministério dos Transportes está desenvolvendo o Plano Nacional de Ferrovias (PNF), que prevê oito novos leilões até 2026 e uma carteira de obras em todas as regiões do país.

Além disso, o ministro Silvio Costa Filho defendeu o uso de recursos do Fundo da Marinha Mercante para financiar projetos ferroviários conectados aos portos brasileiros. Segundo ele, isso pode aumentar em até 50% o escoamento da produção nacional, impulsionando a competitividade logística do país.

Aprovação do investimento cruzado 

O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou a solução consensual entre o Ministério dos Transportes e a ANTT para resolver controvérsias no contrato da Malha Regional Sudeste (MRS), que atravessa várias regiões de Minas Gerais. A decisão autoriza a criação de uma conta especial de R$ 2,8 bilhões destinada ao financiamento da construção de uma nova ferrovia, a ser definida futuramente. O arranjo, sugerido pelo ministro Bruno Dantas, foi aprovado por unanimidade no plenário da corte, mas ainda está pendente de decisão sobre o uso da conta privada em outros contratos ferroviários.

Ferrogrão e Transnordestina

O Ministério dos Transportes está em discussões com o BNDES para viabilizar a concessão da Ferrogrão, ferrovia estratégica para o escoamento de grãos do Mato Grosso para o Pará. A viabilidade do projeto pode ganhar novos rumos agora que o STF começou a revisar a suspensão imposta ao projeto em 2021. 

Por outro lado, a Transnordestina, que começará a testar suas operações em outubro, irá escoar milho e soja do Piauí para o Ceará. O projeto, com investimentos de R$ 7 bilhões, é considerado a maior obra de infraestrutura linear em andamento no Brasil e deve mudar o paradigma da competitividade do agronegócio no Piauí.

Tecon Santos 10 em "guerra de pareceres”

O leilão do novo superterminal de contêineres no Porto de Santos (SP) gerou polêmica e está sendo debatido em pareceres jurídicos. No momento, o Tribunal de Contas da União (TCU) está analisando a validade de restrições e a abertura da concorrência no maior arrendamento portuário da história do Brasil.

PPP para os Vales do Jequitinhonha e Mucuri

O edital para a PPP de saneamento dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, no Norte de Minas Gerais, será lançado até o final de outubro. A PPP, que atenderá cerca de um milhão de habitantes em 80 municípios, terá investimentos da ordem de R$ 3 bilhões, com R$ 2 bilhões sendo aplicados nos primeiros oito anos de concessão.

Curtailment continua fazendo estragos no setor elétrico

Os cortes forçados de geração de energia em fontes renováveis, como solar e eólica, conhecidos como curtailment, aumentaram substancialmente em 2025, com recordes sendo batidos no mês de setembro. O BNDES, maior financiador das usinas renováveis, já está monitorando essa crise e pode renegociar contratos de crédito com as empresas afetadas.

Radar corporativo 

O grupo J&F, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, firmou um acordo para adquirir a distribuidora Roraima Energia, além de quatro termelétricas localizadas em Boa Vista. A operação, que está sendo analisada pelo Cade, faz parte da estratégia do grupo para expandir sua atuação no setor energético brasileiro.

Enquanto isso, a Orizon, especializada em gestão e valorização de resíduos, reativou sua estratégia de aquisições ao anunciar a compra de 100% das operações da G4 - Gestão e Controle de Materiais, proprietária de um aterro sanitário em Presidente Prudente (SP). O acordo está avaliado em R$ 40 milhões.

Finalmente, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) está em negociações com a espanhola Acciona para estudar uma possível parceria em projetos de saneamento no Brasil. A colaboração inclui a avaliação de concorrências públicas no setor, mas ainda não existe oficialização das partes.