
Mercado de carbono no Brasil é visto como oportunidade para valorizar ativos
Debate do GRI Institute revela caminhos para aliar responsabilidade climática a desenvolvimento estruturado e atração de capital
4 de setembro de 2025Infraestrutura
Por Belén Palkovsky
O Brasil está à beira de uma grande transformação com a implementação do mercado regulado de carbono, aprovado no final de 2024. A nova legislação prevê que empresas com emissões anuais acima de 10 mil toneladas de CO₂ reportem seus inventários, enquanto aquelas que superarem 25 mil toneladas deverão apresentar planos de redução, integrando compensações dentro das cotas operadas pelo governo. Estima-se que mais de 5 mil empresas serão impactadas, num movimento que espelha práticas de mercados internacionais, como o europeu.
Foi com esse pano de fundo que, em São Paulo, o GRI Institute, em parceria com a Aon, realizou uma mesa-redonda para debater o tema. O encontro foi moderado por Thiago Lang, Diretor e Head de Industry Verticals, M&A e Soluções de Transações da Aon, e contou com a participação de João Pedro Fernandes (Future Climate Group), Manoel Tabet (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro), Robson Oliveira, (BNDES), além de outros executivos e autoridades.
O crédito de carbono, posicionado como ativo transacionável, abre espaço para liquidez e criação de instrumentos financeiros, mas sua consolidação esbarra em obstáculos técnicos e estruturais. No mercado voluntário, os custos elevados para o desenvolvimento de projetos e a falta de metodologias adaptadas à realidade brasileira - que contemplem especificidades de biomas, posse de terra e comunidades em áreas públicas - limitam o potencial. Além disso, a precificação sofre forte volatilidade, influenciada por fatores externos como crises geopolíticas, que já derrubaram valores de forma abrupta. Projetos semelhantes chegam a registrar preços diferentes devido a metodologias distintas, critérios sociais ou volume transacionado.
O desafio da financiabilidade também é central. A taxa básica de juros brasileira, atualmente em 15% ao ano, restringe o acesso a capital, encarecendo investimentos. Programas como o Fundo Clima oferecem alternativas mais atrativas, enquanto iniciativas como o Ecoinvest - que fornece recursos subsidiados a 1% para bancos combinarem com capital internacional - reduzem custos via blended finance.
No entanto, a ausência de contratos de compra e venda de carbono robustos, que possam servir como garantia, ainda dificulta financiamentos. Nesse sentido, títulos sustentáveis (sustainability-linked bonds), green bonds e blue bonds surgem como ferramentas para destravar capital, desde que lastreados em garantias confiáveis.
Ao mesmo tempo, o mercado segurador vem inovando para dar respaldo a projetos, tanto na proteção de ativos físicos (florestas, infraestrutura) contra riscos como incêndios e secas, quanto na garantia de entrega e pagamento de créditos de carbono. Seguros específicos contra a não entrega ou inadimplência têm potencial de atrair investidores, e a exigência legal de que seguradoras aloquem 0,5% de suas reservas em créditos de carbono ou fundos relacionados pode injetar até R$9 bilhões no setor.
Um exemplo concreto de política pública é o programa ISS Neutro, da Prefeitura do Rio de Janeiro, que estabelece preço mínimo e segurança jurídica para créditos de carbono gerados na cidade. A iniciativa oferece benefícios fiscais a empresas que adquirem créditos auditáveis e verificáveis, movimentando uma cadeia local que inclui auditorias, inventários de emissões e geração de projetos. Grandes companhias, como Petrobras e Azul, já aderiram.
Para os especialistas, a integridade e a governança do mercado serão determinantes. Metodologias transparentes, regras claras e segurança jurídica são essenciais para evitar distorções e garantir que a precificação reflita em real benefício ambiental. A integração da precificação de carbono à estrutura financeira dos projetos é vista como passo estratégico, influenciando diretamente valuation, balanços e competitividade empresarial.
O debate também destacou o papel do Brasil como potencial protagonista global, dada sua capacidade em soluções baseadas na natureza, energia limpa e conservação ambiental. Contudo, para que essa liderança se concretize, será necessário engajamento ativo do setor privado na formulação de regras, assegurando que obrigações climáticas se transformem em instrumentos de valorização patrimonial e acesso a funding competitivo.
Na visão dos executivos, o mercado de carbono atravessa três fases: a acadêmica, voltada à pesquisa; a ativista, com forte mobilização social; e a de negócios, em que o carbono passa a influenciar resultados financeiros e estratégias corporativas. A tendência é que práticas ESG se tornem transversais às empresas, deixando de existir como área isolada e passando a permear finanças, operações, marketing e governança. O desafio é iniciar essa transição agora, construindo maturidade para aproveitar as oportunidades de um mercado que, se bem estruturado, pode gerar retorno econômico, reputacional e estratégico para o Brasil e seus setores produtivos.
O Brasil está à beira de uma grande transformação com a implementação do mercado regulado de carbono, aprovado no final de 2024. A nova legislação prevê que empresas com emissões anuais acima de 10 mil toneladas de CO₂ reportem seus inventários, enquanto aquelas que superarem 25 mil toneladas deverão apresentar planos de redução, integrando compensações dentro das cotas operadas pelo governo. Estima-se que mais de 5 mil empresas serão impactadas, num movimento que espelha práticas de mercados internacionais, como o europeu.
Foi com esse pano de fundo que, em São Paulo, o GRI Institute, em parceria com a Aon, realizou uma mesa-redonda para debater o tema. O encontro foi moderado por Thiago Lang, Diretor e Head de Industry Verticals, M&A e Soluções de Transações da Aon, e contou com a participação de João Pedro Fernandes (Future Climate Group), Manoel Tabet (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro), Robson Oliveira, (BNDES), além de outros executivos e autoridades.
O crédito de carbono, posicionado como ativo transacionável, abre espaço para liquidez e criação de instrumentos financeiros, mas sua consolidação esbarra em obstáculos técnicos e estruturais. No mercado voluntário, os custos elevados para o desenvolvimento de projetos e a falta de metodologias adaptadas à realidade brasileira - que contemplem especificidades de biomas, posse de terra e comunidades em áreas públicas - limitam o potencial. Além disso, a precificação sofre forte volatilidade, influenciada por fatores externos como crises geopolíticas, que já derrubaram valores de forma abrupta. Projetos semelhantes chegam a registrar preços diferentes devido a metodologias distintas, critérios sociais ou volume transacionado.
O desafio da financiabilidade também é central. A taxa básica de juros brasileira, atualmente em 15% ao ano, restringe o acesso a capital, encarecendo investimentos. Programas como o Fundo Clima oferecem alternativas mais atrativas, enquanto iniciativas como o Ecoinvest - que fornece recursos subsidiados a 1% para bancos combinarem com capital internacional - reduzem custos via blended finance.
No entanto, a ausência de contratos de compra e venda de carbono robustos, que possam servir como garantia, ainda dificulta financiamentos. Nesse sentido, títulos sustentáveis (sustainability-linked bonds), green bonds e blue bonds surgem como ferramentas para destravar capital, desde que lastreados em garantias confiáveis.
Ao mesmo tempo, o mercado segurador vem inovando para dar respaldo a projetos, tanto na proteção de ativos físicos (florestas, infraestrutura) contra riscos como incêndios e secas, quanto na garantia de entrega e pagamento de créditos de carbono. Seguros específicos contra a não entrega ou inadimplência têm potencial de atrair investidores, e a exigência legal de que seguradoras aloquem 0,5% de suas reservas em créditos de carbono ou fundos relacionados pode injetar até R$9 bilhões no setor.
Um exemplo concreto de política pública é o programa ISS Neutro, da Prefeitura do Rio de Janeiro, que estabelece preço mínimo e segurança jurídica para créditos de carbono gerados na cidade. A iniciativa oferece benefícios fiscais a empresas que adquirem créditos auditáveis e verificáveis, movimentando uma cadeia local que inclui auditorias, inventários de emissões e geração de projetos. Grandes companhias, como Petrobras e Azul, já aderiram.
Para os especialistas, a integridade e a governança do mercado serão determinantes. Metodologias transparentes, regras claras e segurança jurídica são essenciais para evitar distorções e garantir que a precificação reflita em real benefício ambiental. A integração da precificação de carbono à estrutura financeira dos projetos é vista como passo estratégico, influenciando diretamente valuation, balanços e competitividade empresarial.
O debate também destacou o papel do Brasil como potencial protagonista global, dada sua capacidade em soluções baseadas na natureza, energia limpa e conservação ambiental. Contudo, para que essa liderança se concretize, será necessário engajamento ativo do setor privado na formulação de regras, assegurando que obrigações climáticas se transformem em instrumentos de valorização patrimonial e acesso a funding competitivo.
Na visão dos executivos, o mercado de carbono atravessa três fases: a acadêmica, voltada à pesquisa; a ativista, com forte mobilização social; e a de negócios, em que o carbono passa a influenciar resultados financeiros e estratégias corporativas. A tendência é que práticas ESG se tornem transversais às empresas, deixando de existir como área isolada e passando a permear finanças, operações, marketing e governança. O desafio é iniciar essa transição agora, construindo maturidade para aproveitar as oportunidades de um mercado que, se bem estruturado, pode gerar retorno econômico, reputacional e estratégico para o Brasil e seus setores produtivos.