Energias renováveis, logística e agronegócio colocam Roraima no mapa econômico

Autoridades apresentam crescimento expressivo do estado e debatem com GRI Institute iniciativas para alavancar potencial

17 de junho de 2025Infraestrutura
Por Belén Palkovsky

Historicamente com baixo volume de atividades produtivas em seu território, Roraima está se transformando em um polo emergente de energia renovável, agropecuária produtiva e exportações, aproveitando sua localização estratégica e o crescimento de novos corredores logísticos. O estado vem registrando avanços importantes, que não apenas ampliam suas capacidades, mas também moldam seu futuro econômico.

Um dos marcos desse processo é a regularização de mais de dois milhões de hectares, que faz parte do maior programa fundiário do Brasil. Com isso, Roraima avança rumo à segurança jurídica e impulsiona a expansão do setor agropecuário, criando as condições ideais para investimentos no campo. Por outro lado, a aprovação do Zoneamento Ecológico-Econômico permite que o estado dê os primeiros passos em direção à diversificação de sua matriz energética, com a perspectiva de integração ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e de exportação de energia para países vizinhos, como a Guiana.

Paralelamente, a política de atração de investimentos do governo estadual, aliada a um ambiente regulatório favorável, já resulta em mais de 500 novos empreendimentos instalados no território. No setor agropecuário, por exemplo, o crescimento é impressionante: a área plantada aumentou 144% entre 2020 e 2024, enquanto a produção de grãos - como milho, soja e arroz - saltou 150%. O rebanho bovino, por sua vez, cresceu 60%, alcançando a marca de 1,2 milhão de cabeças.

Em meio a esses avanços, as autoridades locais, como o governador Antonio Denarium e o secretário de Atração de Investimentos, Aluizio Nascimento da Silva, se reuniram com líderes da iniciativa privada, em São Paulo, para discutir os obstáculos que ainda limitam o potencial de Roraima e buscar soluções para superá-los. 

Entre os temas abordados, o setor energético se destacou, com o estado exibindo o maior fator de capacidade para geração de energia fotovoltaica do país, alcançando 23% devido à incidência solar constante. A topografia favorável também sinaliza grande potencial para projetos eólicos, principalmente no nordeste do estado.

Contudo, a principal limitação para a expansão desses mercados é a ausência de conexão plena ao SIN. A construção da linha de transmissão Manaus-Boa Vista, iniciada em 2023 após mais de uma década de entraves, está prevista para ser concluída até 2026. Com essa obra, será possível reduzir a dependência das termelétricas a diesel, que hoje representam mais de 70% da energia consumida em Roraima, e abrir caminho para a geração renovável.

Enquanto isso, três projetos de usinas solares híbridas já estão em fase de desenvolvimento, com destaque para um parque de 250 MW em Boa Vista, com previsão de operação até 2027. O governo estadual também negocia acordos de exportação de energia limpa com a Venezuela e a Guiana, com apoio técnico da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e da Agência Brasileira de Cooperação. O objetivo é tornar Roraima um exportador de energia renovável para o Caribe e o norte da América do Sul.

Entretanto, o crescimento do mercado energético depende também de mudanças regulatórias. Durante a reunião, discute-se a necessidade de revisão da Resolução Normativa 863/2019 da ANEEL, com o intuito de permitir que empresas locais firmem contratos de fornecimento de longo prazo no ambiente de contratação livre. O mercado livre de energia ainda é um conceito em fase embrionária no estado, mas promete se consolidar com a conclusão da linha de transmissão.

Além de sua vocação para a geração de energia, Roraima também se destaca pelo seu potencial agrícola. O estado possui cerca de 12 milhões de hectares com aptidão agrícola, dos quais apenas 500 mil hectares são atualmente utilizados para produção. O clima favorece a possibilidade de duas safras por ano, enquanto a baixa incidência de pragas permite a redução do uso de defensivos, resultando em menor custo de produção e maior eficiência ambiental. 

Segundo técnicos da Embrapa Roraima, a ausência de ferrugem asiática, uma das maiores pragas da soja, também contribui para a competitividade do estado no mercado de grãos.

Com esses dados, o governo estadual estabelece a meta de triplicar a área cultivada até 2030. Um dos principais projetos é a criação do Polo Agroindustrial da Região Central, que incluirá agroindústrias para o beneficiamento de grãos e a geração de bioenergia. Este projeto, que está em fase de licenciamento, conta com o apoio da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e da Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação. 

Se bem a regularização fundiária segue como um desafio, o Instituto de Terras de Roraima (Iteraima) já entregou mais de 3.500 títulos definitivos desde 2022. Além disso, está em andamento um projeto de lei estadual que visa acelerar a titulação coletiva de áreas da União que já foram repassadas ao estado. Produtores, no entanto, exigem segurança jurídica e uma simplificação dos processos de licenciamento ambiental, especialmente nas Áreas de Interesse Agropecuário definidas no Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE).

Entretanto, a limitação da infraestrutura logística continua a representar um obstáculo para a expansão da produção. Mais de 70% das estradas estaduais ainda não são pavimentadas. As BR-174 e RR-205 necessitam de reformas e duplicação para suportar o crescimento do agronegócio e o transporte de insumos.

Simultaneamente, avança o projeto de interligação entre Roraima e Georgetown, capital da Guiana, que inclui a pavimentação da BR-401 e a criação de um corredor logístico com porto seco em Bonfim, além de uma possível ferrovia até o litoral da Guiana. O objetivo é aumentar a eficiência do escoamento de grãos, insumos e energia, com o apoio de investimentos estrangeiros, incluindo agências britânicas.

O Aeroporto Internacional de Boa Vista, que também foi colocado em foco, ainda carece de infraestrutura adequada para acompanhar o crescimento projetado. Empresários e autoridades locais defendem sua modernização a fim de atender à demanda crescente de logística associada ao agronegócio e à industrialização local.
No campo jurídico, o governo estadual está estruturando um novo marco legal para investimentos estratégicos, com a criação de zonas de desenvolvimento regional que contarão com incentivos fiscais diferenciados. Alinhado à legislação da SUDAM e da SUFRAMA, o objetivo é tornar essas zonas prioritárias para projetos de energia, rodovias e agroindustrialização.

Além disso, o governo propõe um decreto estadual para simplificar e desburocratizar os processos de licenciamento ambiental, inspirado em modelos já adotados por outros estados, como Pará e Mato Grosso. A minuta do decreto está em consulta pública e será submetida à Assembleia Legislativa.

Com o apoio de instituições como o Banco da Amazônia, o BNDES e o BID, Roraima está se preparando para acessar linhas de crédito voltadas para projetos estruturantes, sendo necessário, para tanto, garantir previsibilidade institucional e alinhamento entre os entes envolvidos.

Roraima reúne uma combinação única de atributos naturais, posição estratégica e uma agenda de desenvolvimento alinhada com as principais tendências globais - como a transição energética, a expansão sustentável da produção de alimentos e a integração regional. O êxito desses projetos dependerá da articulação entre o setor privado, os governos locais e as instituições multilaterais.

Nos próximos anos, a expectativa é que o estado, hoje ainda um consumidor isolado, se consolide como um polo econômico de destaque, não apenas no Brasil, mas também na América do Sul.